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terça-feira, 16 de julho de 2013

Papa Francisco fala aos jovens

Palavras do papa Francisco aos jovens ditas no dia 7 de julho
Amados irmãos e irmãs!
Já ontem tive a alegria de vos encontrar, e hoje a nossa festa é ainda maior porque nos reunimos para a Eucaristia, no Dia do Senhor. Sois seminaristas, noviços e noviças, jovens em caminhada vocacional, vindos dos diversos cantos do mundo: representais a juventude da Igreja. Se a Igreja é a Esposa de Cristo, de certo modo vós representais o seu tempo de noivado, a primavera da vocação, o período da descoberta, do discernimento, da formação. E é um período muito belo, em que se lançam as bases do futuro. Obrigado por terdes vindo!
Hoje a Palavra de Deus fala-nos da missão. Donde nasce a missão? A resposta é simples: nasce de um chamado – do Senhor – e Ele chama para ser enviado. Qual deve ser o estilo do enviado? Quais são os pontos de referência da missão cristã? As leituras que ouvimos sugerem-nos três: a alegria da consolação, a cruz e a oração.
1. O primeiro elemento: a alegria de consolação
O profeta Isaías dirige-se a um povo que atravessou o período escuro do exílio, sofreu uma prova muito dura; mas agora, para Jerusalém, chegou o tempo da consolação; a tristeza e o medo devem dar lugar à alegria: «Alegrai-vos (...), rejubilai (…) regozijai-vos» – diz o Profeta (66, 10). É um grande convite à alegria. Porquê? Qual é o motivo deste convite à alegria? Porque o Senhor derramará sobre a Cidade Santa e seus habitantes uma «cascata» de consolação, uma cascata de consolação – ficando assim repletos de consolação –, uma cascata de ternura materna: «Serão levados ao colo e acariciados sobre os seus regaços» (v. 12). Como faz a mãe quando põe o filho no regaço e o acaricia, assim o Senhor fará conosco… faz conosco. Esta é a cascata de ternura que nos dá tanta consolação. «Como a mãe consola o seu filho, assim Eu vos consolarei» (v. 13). Cada cristão, mas sobretudo nós, somos chamados a levar esta mensagem de esperança, que dá serenidade e alegria: a consolação de Deus, a sua ternura para com todos. Mas só podemos ser seus portadores, se experimentarmos nós primeiro a alegria de ser consolados por Ele, de ser amados por Ele. Isto é importante para que a nossa missão seja fecunda: sentir a consolação de Deus e transmiti-la! Algumas vezes encontrei pessoas consagradas que têm medo da consolação de Deus e… pobrezinho, pobrezinha delas, se amofinam porque têm medo desta ternura de Deus. Mas não tenhais medo. Não tenhais medo, o nosso Deus é o Senhor da consolação, o Senhor da ternura. O Senhor é Pai e Ele disse que procederá conosco como faz uma mãe com o seu filho, com a ternura dela. Não tenhais medo da consolação do Senhor. O convite de Isaías: «consolai, consolai o meu povo» (40,1) deve ressoar no nosso coração e tornar-se missão. Encontrarmos, nós, o Senhor que nos consola e irmos consolar o povo de Deus: esta é a missão. Hoje as pessoas precisam certamente de palavras, mas sobretudo têm necessidade que testemunhemos a misericórdia, a ternura do Senhor, que aquece o coração, desperta a esperança, atrai para o bem. A alegria de levar a consolação de Deus!
2. O segundo ponto de referência da missão é a cruz de Cristo. São Paulo, ao escrever aos Gálatas, diz: «Quanto a mim, de nada me quero gloriar, a não ser na cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo» (6, 14). E fala de «estigmas», isto é, das chagas de Jesus crucificado, como selo, marca distintiva da sua vida de apóstolo do Evangelho. No seu ministério, Paulo experimentou o sofrimento, a fraqueza e a derrota, mas também a alegria e a consolação. Isto é o mistério pascal de Jesus: mistério de morte e ressurreição. E foi precisamente o ter-se deixado configurar à morte de Jesus que fez São Paulo participar na sua ressurreição, na sua vitória. Na hora da escuridão, na hora e da prova, já está presente e operante a alvorada da luz e da salvação. O mistério pascal é o coração palpitante da missão da Igreja. E, se permanecermos dentro deste mistério, estamos a coberto quer de uma visão mundana e triunfalista da missão, quer do desânimo que pode surgir à vista das provas e dos insucessos. A fecundidade pastoral, a fecundidade do anúncio do Evangelho não deriva do sucesso nem do insucesso vistos segundo critérios de avaliação humana, mas de conformar-se com a lógica da Cruz de Jesus, que é a lógica de sair de si mesmo e dar-se, a lógica do amor. É a Cruz – sempre a Cruz com Cristo, porque às vezes oferecem-nos a cruz sem Cristo: esta não vale! É a Cruz, sempre a Cruz com Cristo – que garante a fecundidade da nossa missão. E é da Cruz, supremo ato de misericórdia e amor, que se renasce como «nova criação» (Gl 6, 15).
3. Finalmente, o terceiro elemento: a oração. Ouvimos no Evangelho: «Rogai ao dono da messe que mande trabalhadores para a sua messe» (Lc 10, 2). Os trabalhadores para a messe não são escolhidos através de campanhas publicitárias ou apelos ao serviço da generosidade, mas são «escolhidos» e «mandados» por Deus. É Ele que escolhe, é Ele que manda; sim, é Ele que manda, é Ele que confere a missão. Por isso é importante a oração. A Igreja – repetia Bento XVI – não é nossa, mas de Deus; e quantas vezes nós, os consagrados, pensamos que seja nossa! Fazemos dela… qualquer coisa que nos vem à cabeça. Mas não é nossa; é de Deus. O campo a cultivar é d'Ele. Assim, a missão é sobretudo graça. A missão é graça. E, se o apóstolo é fruto da oração, nesta encontrará a luz e a força da sua ação. De contrário, a nossa missão não será fecunda; mais, apaga-se no próprio momento em que se interrompe a ligação com a fonte, com o Senhor.
Queridos seminaristas, queridas noviças e queridos noviços, queridos jovens em caminhada vocacional! Há dias, um de vós, um dos vossos formadores, dizia-me: évangéliser on le fait à genoux, a evangelização faz-se de joelhos. Ouvi bem: «A evangelização faz-se de joelhos». Sede sempre homens e mulheres de oração! Sem o relacionamento constante com Deus a missão torna-se um ofício. Mas que trabalho fazes? Trabalho de alfaiate, de cozinheira, de padre… Trabalhas de padre, de freira? Não. Não é um ofício, é diverso. O risco do ativismo, de confiar demasiado nas estruturas, está sempre à espreita. Se olhamos a vida de Jesus, constatamos que, na véspera de cada decisão ou acontecimento importante, Ele Se recolhia em oração intensa e prolongada. Cultivemos a dimensão contemplativa, mesmo no turbilhão dos compromissos mais urgentes e pesados. E quanto mais a missão vos chamar para ir para as periferias existenciais, tanto mais o vosso coração se mantenha unido ao de Cristo, cheio de misericórdia e de amor. Aqui reside o segredo da fecundidade pastoral, da fecundidade de um discípulo do Senhor!
Jesus envia os seus sem «bolsa, nem alforge, nem sandálias» (Lc 10, 4). A difusão do Evangelho não é assegurada pelo número das pessoas, nem pelo prestígio da instituição, nem ainda pela quantidade de recursos disponíveis. O que conta é estar permeados pelo amor de Cristo, deixar-se conduzir pelo Espírito Santo e enxertar a própria existência na árvore da vida, que é a Cruz do Senhor.
Queridos amigos e amigas, com grande confiança vos confio à intercessão de Maria Santíssima. Ela é a Mãe que nos ajuda a tomar as decisões definitivas com liberdade, sem medo. Que Ela vos ajude a testemunhar a alegria da consolação de Deus, sem ter medo da alegria; Ela vos ajude a conformar-vos com a lógica de amor da Cruz, a crescer numa união cada vez mais intensa com o Senhor na oração. Assim a vossa vida será rica e fecunda!
Fonte: news.va

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

ARTIGO: O Enigma da cruz

No próximo domingo, 21, celebraremos Cristo Rei. No Evangelho - Lucas 23,35-43 -, estaremos refletindo sobre Jesus Cristo Rei, na cruz. Neste artigo, Padre Alfredo, sc, fala do Reino de Jesus, um Rei crucificado.
O ENIGMA DA CRUZ
Pe. Alfredo J. Gonçalves, CS
A cruz é maldita. Instrumento de tortura e morte do mundo antigo: atroz e duradouro, reservado aos rebeldes mais execrados. “Maldito todo aquele que é suspenso no madeiro”, diz São Paulo na Carta aos Gálatas (Gl 3,13), citando o Livro do Deuteronômio. Deus está ausente da cruz, pois, ainda conforme a citação do Deuteronômio, “aquele que é pendurado é um objeto de maldição divina” (Dt 21,23). O Pai não pode comungar com a violência extremada dos homens, especialmente quando esta se abate sobre um inocente que “passou pela vida fazendo o bem” (At 10,38). Daí o grito atormentado e incompreensível do Filho, agonizante no alto da cruz, citando o salmo 22: “Elói, Elói, lamma sabactáni?”, “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?” (Mc 15,34).
Mas é igualmente incompreensível que, em momento tão crucial (e este adjetivo tem origem na cruz), o pai abandone o filho. É este, aliás, que torna presente o amor do Pai no seu gesto humano-divino, o gesto mais inaudito e surpreendente de todos os tempos: “Pai perdoai-lhes porque eles não sabem o que fazem!” (Lc 23,34). Aqui o contraste se eleva à máxima potência. À ação violenta das autoridades que o julgaram e dos soldados que o executam, Jesus responde com o perdão. A manifestação mais extremada da violência se confronta com a própria personificação da misericórdia. Enquanto, de um lado, os verdugos se atiram como que embriagados sobre a presa inocente, de outro, Deus “se vinga” oferecendo a dádiva do perdão. Sendo Jesus Cristo a revelação do amor divino, o verbo feito carne, este é sem dúvida o momento sublime de tal revelação.
Nesta linha de reflexão, exclui-se completamente a idéia de que o Pai entrega o Filho em sacrifício pela salvação da humanidade. Hoje é unânime entre os estudiosos o consenso de que a morte brutal de Jesus é fruto de seu profetismo e testemunho, ambos de uma radicalidade sem precedentes. Nessa trajetória em defesa da justiça e dos pobres, o nazareno se bate com as forças conservadoras da época, representando tanto o poder judaico quanto o império romano. São as autoridades constituídas que manipulam o povo, exigindo deste um “crucifica-o, crucifica-o” que, irremediável e fatalmente o levará ao calvário. E o Pai, permanece silencioso, indiferente, alheio à cena do Gólgota? O silêncio de Deus é a condição da liberdade humana. Deus é fiel porque cala, respeitando as opções de cada um. Em tudo, menos no pecado, Jesus experimenta a condição humana (Hb 4,15).
Semelhante reflexão remete à obra de René Girard, particularmente A Violência e o Sagrado e O Bode Expiatório. Nesses estudos, o autor sustenta que a resposta de Jesus ao seu julgamento e execução tão bárbara quebra o círculo vicioso da violência, tão comum nas religiões antigas. Nestas, a violência cotidiana exigia um ritual esporádico, igualmente violento, para refazer a coesão e a paz social. Assim se equilibrava e se neutralizava o ciclo espiral dos atos violentos. Era como se o sangue das vítimas – humanas ou animais – aplacasse a fúria das multidões, refletida na ira dos deuses. A reciprocidade violenta ajudava a conter o círculo repetitivo do caos indiferenciado, gerado por algum tipo de agressão. Dessa forma, a vida em sociedade era como que re-fundada periodicamente em rituais de sacrifício. A civilização estava alicerçada na violência recíproca.
Em outra obra, As coisas escondidas desde a criação do mundo, o mesmo autor esclarece como o perdão, oferecido no alto da cruz e no auge do sofrimento, instaura a fundação de outro tipo de relações humanas e sociais. Aqui os laços nascem não do medo e do equilíbrio entre as forças em permanentes choques violentos, e sim no amor e na solidariedade, inclusive para com os inimigos. Jesus inaugura a possibilidade de outro princípio para própria civilização, desta vez alicerçada em redes solidárias recíprocas. As duas grandes guerras mundiais, o holocausto e a guerra-fria, períodos cáusticos e tragicamente pontilhado por milhares de cadáveres insepultos, pode ser outro resultado da violência mútua.
Retomando o tema, o Pai encontra-se, ao mesmo tempo, ausente e presente na cruz onde o Filho dolorosamente agoniza. Ausente na fúria humana que desencadeia a tormenta assassina sobre o profeta dos últimos tempos. Fúria que se reproduz ao longo dos tempos sobre milhões e milhões de vítimas da história, crucificadas pela pobreza, a miséria, a fome e a violência em suas mil formas. Mas Deus está presente no ato de perdão do Filho que, desse modo, revela com todas as luzes o coração misericordioso, compassivo e amoroso de Deus. Coração do bom pastor, do bom samaritano ou do pai que espera ansioso pela volta do “filho pródigo”. Nesse contraste inédito entre a violência e o amor, há como que um curto-circuito, uma faísca, um raio – que ilumina o mistério da cruz. O gesto gratuito de perdão como resposta aos algozes que o torturam constitui uma semente. Uma semente que não pode morrer!
Por isso Jesus não é enterrado, mas semeado. Um grupo de leigos, majoritária e sintomaticamente formado por mulheres, se encarrega de descer do madeiro o corpo do Crucificado. São as personagens do momento da crise, da tragédia, da escuridão. Os demais, até mesmo os futuros apóstolos e colunas da futura Igreja, haviam se dispersado. Mas aquele punhado de pessoas toma sobre si a tarefa de prestar as últimas homenagens ao falecido. Não é difícil imaginar com que dor e com que tristeza tais pessoas o fazem. Tampouco é difícil imaginar com que carinho e com que delicadeza elas o transportam ao túmulo. Aí o corpo, de acordo com o costume da época, é cuidadosamente perfumado, envolto em lençóis limpos e “semeado”.
A ternura e o esmero que revestem semelhante tarefa parecem acompanhadas de uma profunda intuição: aquele corpo é uma semente e a semente, quando o lavrador lança-a à terra, o faz na esperança de que possa brotar. Inconscientemente, para aqueles poucos fiéis, o retorno à vida parece ser um fruto inevitável frente a uma entrega tão grandiosa. Como se a ressurreição precedesse a própria morte: resultado inequívoco de uma vida que não pode ser apagada nas marcas deixadas na pedra viva da história. Os ventos furiosos da morte não podem desfazer as pegadas de um amor tão belo, tão inteiro e tão profundo. No ato mesmo de “semear” o corpo de Jesus no túmulo está impregnada a intuição de que sua obra e seu gesto final constituem uma semente. Semente que, no solo úmido e aparentemente estéril, irá amadurecer e se levantar. Lançará raízes no terreno da história humana, para depois erguer-se triunfante rumo ao ar livre, ao céu azul, à luz do sol, à Casa do Pai. A ressurreição está em germe, no coração contrito e entristecido daquele pequeno grupo. Talvez para ele o túmulo vazio não tenha representado nenhuma surpresa!
Em outras palavras, na árdua travessia do deserto, quando tudo se faz escuro e parece não haver saída, quem toma nas mãos as rédeas da “história da salvação” é um grupo de leigos, especialmente mulheres. De fato, o espaço compreendido entre a cruz e a ressurreição é tempo de trevas, de desespero. As expectativas com relação ao Reino de Deus se frustram. Tudo parece acabado, o medo tomou o lugar da esperança. Diante dos acontecimentos trágicos, os antigos discípulos sentem-se órfãos, sós e perdidos com a morte do Mestre: enquanto um o havia traído e outro negado, os demais se põem em fuga. Com a exceção do discípulo amado, a debandada contamina a todos.
Emblemático a esse respeito é o episódio dos discípulos de Emaús (Lc 24,13-35). Tristes, impotentes, medrosos e cabisbaixos, retornam para o seu povoado, dando por encerrada a aventura de Jesus de Nazaré. Se o líder terminou suspenso no alto da cruz, o que não poderá ocorrer com eles! O mais seguro é deixar os arredores de Jerusalém e refugiar-se tranquilamente em casa. O mesmo episódio, porém, marca uma reviravolta. Se a ida de Jerusalém a Emaús é o caminho do medo e do fracasso, a volta de Emaús a Jerusalém representa o despertar da chama encoberta pelas cinzas: “não ardia nosso coração quando Ele nos explicava as Escrituras?” Os antigos companheiros de Jesus, que empreendiam uma dolorosa fuga, o reconhecem ao partir o pão. Imediatamente se lhes abre os olhos e o coração para a nova realidade. A brasa ressurge, se reaviva, e ambos regressam com asas nos pés para anunciar a Boa Nova. Todo o episódio representa um parto em que o discípulo desalentado se torna missionário ardoroso, para usar a expressão do Documento de Aparecida. A semente lançada à terra começa a germinar.

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