"A Palavra de Deus e a pessoa do bispo". Este foi o tema da segunda meditação feita pelo cardeal Marc Ouellet, orientador do retiro espiritual dos bispos da 49ª Assembleia da CNBB, iniciado na tarde de ontem. A reflexão foi apresentada na manhã de hoje, no Centro de Eventos Padre Vitor Coelho, em Aparecida (SP), onde acontece a reunião dos bispos desde quarta-feira, 4.
“Cristo é o único em quem a Pessoa e a missão coincidem absolutamente”, disse o cardeal. “Em nós, seus ministros, a missão não coincide totalmente com a nossa pessoa, pois fomos chamados em um determinado momento, nós dissemos sim e desde nossa ordenação somos investidos do carisma de anunciar a Palavra de Deus para conduzir nosso povo à obediência da fé”, completou.
O cardeal fez uma relação da Palavra de Deus com o múnus de santificar do bispo. “O fundamento do sacerdócio é a instituição da Santa Eucaristia, enquanto memorial do mistério pascal”, afirmou. Ele recordou que ao pronunciar as palavras da consagração o bispo e o padre agem i n persona Christi. “O que quer dizer esta expressão misteriosa?”, indagou. “É sempre o Cristo o autor e o sujeito destas palavras que significam e realizam seu dom escatológico à humanidade”, explicou.
“São palavras escatológicas colocadas na boca dos ministros históricos da Nova Aliança pelo Espírito Santo, que faz do Senhor Ressuscitado e de seu ministro um único sujeito sacramental”, acrescentou.
Outro pondo considerado pelo cardeal foi a “identidade trinitária dos batizados e do bispo”. “Enquanto batizado, o bispo, como todo batizado, usufrui da graça mais fundamental que existe: a filiação divina adotiva. Esta é recebida em participação e confirmada pela efusão do espírito filial, que torna o batizado capaz de testemunhar o Cristo com força e perseverança em todas as circunstâncias”.
O cardeal finalizou sua meditação discorrendo sobre a Palavra de Deus e o celibato apostólico do bispo. “A disciplina do celibato na Igreja latina exprime a longa fidelidade da Igreja à vontade do Senhor de escolher aqueles que ele quer para ‘estar com ele’ (Mc 3,24) em uma relação de amizade que fundamenta o ministério apostólico”, ressaltou.
Segundo o cardeal Marc Ouellet, o celibato apostólico não é “uma imposição arbitrária da Igreja, mas sim um testemunho de amor, em harmonia profunda com o ministério episcopal e sacerdotal”.
Ontem, após a primeira meditação, os bispos tiveram a celebração penitencial presidida pelo bispo de Jataí (GO), dom José Luiz Majella Delgado. O retiro continua com mais uma meditação e a oração do terço no Santuário de Aparecida onde haverá missa ao meio dia. Amanhã, os bispos retomam as atividades com duas sessões pela manhã e duas pela tarde.
A última meditação dirigida pelo cardeal Marc Ouellet aos bispos em retiro na 49ª Assembleia da CNBB, na manhã deste domingo, 8, no Centro de Eventos Padre Vitor Coelho, em Aparecida (SP), abordou o tema “A Palavra de Deus e a paternidade do bispo”.
O cardeal lembrou, ao longo da reflexão, a figura do papa João Paulo II, beatificado no último domingo. “Ninguém na história humana exerceu tamanho poder de convocação”, disse o cardeal recordando as viagens do novo beato. “Ele anunciou a Palavra de Deus aos auditórios dos mais diversos, mas, sobretudo, aos pobres, que reconheciam nele um defensor, um amigo e um pai”.
Segundo o purpurado, João Paulo II foi um pastor “duramente provado” durante todo seu pontificado. “Sua figura de homem sofredor o liga à visão do Cordeiro-Pastor no Apocalipse”, disse.
Dom Marc Ouellet destacou a importância do ministério episcopal ser exercido de forma generosa e citou o exemplo de João Paulo II. “Um ministério episcopal generoso, realizado com um coração de discípulo como aquele de João Paulo II, produz muitos frutos de evangelização e de edificação da Igreja”.
De acordo com o orientador do retiro, João Paulo II ilustra bem a relação entre “a unidade do sacerdócio e a fecundidade da Igreja”. “Artesão do Concílio Vaticano II, João Paulo II deu continuidade ao papa Paulo VI ao garantir o prosseguimento dos sínodos dos bispos, a fim de aprofundar as conquistas conciliares”, explicou.
Após a meditação, os bispos se dirigiram para o Santuário Nacional de Aparecida onde rezam o terço aos pés de Nossa Senhora Aparecida. Ao meio dia tem início a missa em ação de graças pela beatificação de João Paulo II. A celebração, que será presidida pelo arcebispo de Aparecida, cardeal Raymundo Damasceno Assis, prestará homenagem também às mães.
Agradecimento
O presidente da CNBB, dom Geraldo Lyrio Rocha, agradeceu a presença do cardeal Marc Ouellet junto aos bispos do Brasil e suas palavras dirigidas ao episcopado durante seu retiro espiritual na Assembleia.
O presidente da CNBB, dom Geraldo Lyrio Rocha, agradeceu a presença do cardeal Marc Ouellet junto aos bispos do Brasil e suas palavras dirigidas ao episcopado durante seu retiro espiritual na Assembleia.
“A consistência teológica, a riqueza espiritual e o alcance pastoral de suas palavras nos enriquecem a todos nós”, disse. “A evocação da gigantesca figura do beato João Paulo II, como pai e pastor, já nos introduz no clima da eucaristia que, daqui a pouco vamos celebrar, quando o episcopado brasileiro rende graças a Deus pela beatificação de João Paulo II no domingo anterior”, acrescentou dom Geraldo.
O cardeal recebeu das mãos de dom Geraldo a Bíblia traduzida pela CNBB e uma coletânea de documentos publicados pela Comissão para a Doutrina da Fé da CNBB.
Nenhum comentário:
Postar um comentário