No dia 25 de setembro, em Roma, aconteceu a beatificação de Chiara Luce Badano, uma jovem italiana que morreu há 20 anos, no dia 7 de outubro de 1990. Filha única de um casal que a esperou durante 11 anos, nasceu em Sassello, norte da Itália, no dia 29 de outubro de 1971. Com nove anos, entrou em contato com o Movimento dos Focolares, ao participar, juntamente com seus pais, de um encontro de espiritualidade em Roma, fato que modificou radicalmente a vida dos três membros da pequena família.
Voltou para casa renovada e irradiante. Uma intensa luz interior, que se transformou numa profunda alegria, a fez entender que Deus a amava acima de qualquer expectativa. Suas fraquezas e incoerências, que até então a humilhavam e pareciam impedir sua intimidade com ele, passaram a ser vistas como um poderoso imã, que atraía a misericórdia divina. Sentindo-se amada gratuitamente – independentemente de seus méritos reais ou fictícios – passou a gozar de uma liberdade jamais antes imaginada, que a impelia a amar a todos. Como São João, ela não cansava de repetir: «Conheço o amor que Deus tem por mim e nele acredito!» (1Jo 4,16).
Contudo, para ser fiel ao ideal que abraçara, diferentemente de sua homônima, Santa Clara de Assis, ela não se retirou para um convento nem abandonou a família e os numerosos amigos que sua simpatia cativava. Nem começou a passar longas horas na igreja... Pelo contrário, o seu novo estilo de vida reforçou mais ainda a graça que brilhava em todo o seu agir. Para ela, santidade era fazer a vontade de Deus. E a vontade de Deus é uma só: amar! Por isso, dedicava-se com intensidade e desapego tanto aos estudos e aos pequenos trabalhos domésticos, como aos esportes, à dança, ao canto e aos encontros de formação com os colegas que a cercavam.
Em suma, uma jovem cheia de vida, de alegria e... de projetos para o futuro, não excluído o casamento. Contudo, em 1988, quando mal completara 17 anos, durante uma partida de tênis, sentiu uma aguda dor nas costas. Os exames médicos lhe deram a pior de todas as notícias: câncer nos ossos.
Foi um baque que a jogou nas trevas mais espessas. As dúvidas e as interrogações se sucederam num ritmo crescente: «Por que isso acontece justamente comigo, que tanto luto para fazer o bem a todos? Por que Deus, que é amor, permite uma coisa dessas? Mas, se ele é todo-poderoso, por que não faz um milagre?» Pediu à mãe que a deixasse sozinha em seu quarto por quinze minutos. Em seguida, abriu a porta e, com o rosto brilhando entre as lágrimas, exclamou: «Por ti, Jesus! Se tu o queres, eu também o quero!».
As dores e provas passaram a se suceder num ritmo crescente. Mas, diante de cada uma delas, repetia o seu “sim” “sempre, logo e com alegria” – como aprendera de sua mestra, Chiara Lubich. Foi tão grande o progresso alcançado nos dois anos de doença, que disse a uma amiga: «Se tivesse de escolher entre caminhar novamente ou ir ao Paraíso, eu não teria dúvida: escolheria o Paraíso. Nessa altura, somente ele me interessa».
No dia 19 de julho de 1990, ela escrevia a Chiara Lubich: «A medicina não tem mais nada a fazer. Ao interromper o tratamento, as dores na coluna aumentaram muito. Quase não consigo me mexer. Sinto-me tão pequena, e o caminho que devo percorrer, tão duro... Frequentemente tenho a impressão de ser sufocada pela dor. É Jesus, o Esposo, que vem ao meu encontro, não é mesmo? Sim, eu repito com você: “Se tu queres, eu também quero!”. Com você e com ele, tenho certeza que conquistaremos o mundo!».
De Chiara Lubich, Chiara Badano recebeu o sobrenome de “Luce”, pela luz que irradiava o seu ser e contagiava os que dela se aproximavam. Passou os últimos dias de vida preparando o que julgava necessário para o funeral, que denominou “festa de seu casamento”: os cânticos, as flores e o vestido branco. As últimas palavras que dirigiu à mãe revelam a maturidade alcançada por uma jovem que acreditou no amor: «Seja feliz, assim como eu o sou!».
Dom Redovino Rizzardo
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