Na Praça São Pedro, com mais de 50 mil fiéis e peregrinos, o Papa Francisco, na homilia da Liturgia do Domingo da Paixão do Senhor, neste domingo, 2 de abril, partiu da invocação do Salmo 22: «Meu Deus, meu Deus, porque Me abandonaste?» Estas palavras nos conduzem ao coração da paixão de Cristo, ao ponto culminante dos sofrimentos que padeceu para nos salvar.
Disse o Papa Francisco que Cristo abandonado, impele-nos a procurá-lo e a amá-lo nos abandonados. Porque neles, não temos apenas necessitados, mas temos a Ele, Jesus Abandonado, Aquele que nos salvou descendo até ao fundo da nossa condição humana. Por isso deseja que cuidemos dos irmãos e irmãs que mais se parecem com Ele, com Ele no ato extremo do sofrimento e da solidão.
Na Bíblia, o verbo «abandonar» é forte; aparece em momentos de dor extrema: em amores fracassados, rejeitados e traídos; em filhos enjeitados e abortados; em situações de repúdio, viuvez e orfandade; em casamentos gorados, em exclusões que privam dos laços sociais, na opressão da injustiça e na solidão da doença: em suma, nas mais drásticas dilacerações dos vínculos. Cristo levou tudo isto para a cruz, ao carregar sobre Si o pecado do mundo. E, no auge, Ele – Filho unigênito e predileto – experimentou a situação mais estranha no seu caso: a distância de Deus.
Lembrou algumas semanas atrás, quando um alemão, morador de rua, morreu debaixo da colunata, sozinho, abandonado. É Jesus para cada um de nós. Muitos precisam da nossa proximidade, são muitos os abandonados, descartados e invisíveis na nossa comunidade.
Disse o Papa:
Há hoje tantos «cristos abandonados». Há povos inteiros explorados e deixados à própria sorte; há pobres que vivem nas encruzilhadas das nossas estradas e cujo olhar não temos a coragem de fixar; migrantes, que já não são rostos, mas números; reclusos rejeitados, pessoas catalogadas como problemas. Mas há também muitos cristos abandonados invisíveis, escondidos, que são descartados de forma «elegante»: crianças nascituras, idosos deixados sozinhos, doentes não visitados, pessoas portadoras de deficiência ignoradas, jovens que sentem dentro um grande vazio sem que ninguém escute verdadeiramente o seu grito de dor.
Jesus se fez solidário a todos, até o extremo para estar conosco até o fim. Quando me sinto transviado e perdido, quando não aguento mais, Tu estás lá, estás comigo; nos meus «porquês» sem resposta, estás comigo. O estilo de Deus é que ninguém seja esquecido, deixado só. Ele tem olhos e coração para os abandonados.
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