“Igreja missionária, testemunha
de misericórdia” é o título da mensagem do Papa para o Dia Mundial das Missões,
a ser celebrado no terceiro domingo de outubro (16).
"Hoje, no contexto muito
apropriado de Pentecostes, é publicada a minha mensagem para o próximo Dia
Mundial das Nações, celebrado a cada ano no mês de outubro. Que o Espírito
Santo dê força a todos os missionários ad gentes e apoie a missão da Igreja no
mundo inteiro. E que o Espírito Santo nos dê jovens - moças e rapazes - fortes,
que tenham vontade de anunciar o Evangelho. Peçamos isto hoje ao Espírito
Santo".
Mensagem
“Queridos irmãos e irmãs
O Jubileu Extraordinário da
Misericórdia, que a Igreja está a viver, proporciona uma luz particular também
ao Dia Mundial das Missões de 2016: convida-nos a olhar a missão ad gentes como
uma grande, imensa obra de misericórdia quer espiritual quer material. Com
efeito, neste Dia Mundial das Missões, todos somos convidados a «sair», como
discípulos missionários, pondo cada um a render os seus talentos, a sua
criatividade, a sua sabedoria e experiência para levar a mensagem da ternura e
compaixão de Deus à família humana inteira. Em virtude do mandato missionário,
a Igreja tem a peito quantos não conhecem o Evangelho, pois deseja que todos
sejam salvos e cheguem a experimentar o amor do Senhor. Ela «tem a missão de
anunciar a misericórdia de Deus, coração pulsante do Evangelho» (Bula
Misericordiae Vultus, 12), e anunciá-la em todos os cantos da terra, até
alcançar toda a mulher, homem, idoso, jovem e criança.
A misericórdia gera íntima
alegria no coração do Pai, sempre que encontra cada criatura humana; desde o
princípio, Ele dirige-Se amorosamente mesmo às mais vulneráveis, porque a sua
grandeza e poder manifestam-se precisamente na capacidade de empatia com os
mais pequenos, os descartados, os oprimidos (cf. Dt 4, 31; Sal 86, 15; 103, 8;
111, 4). É o Deus benigno, solícito, fiel; aproxima-Se de quem passa
necessidade para estar perto de todos, sobretudo dos pobres; envolve-Se com
ternura na realidade humana, tal como fariam um pai e uma mãe na vida dos seus
filhos (cf. Jr 31, 20). É ao ventre materno que alude o termo utilizado na
Bíblia hebraica para dizer misericórdia: trata-se, pois, do amor duma mãe pelos
filhos; filhos que ela amará sempre, em todas as circunstâncias suceda o que
suceder, porque são fruto do seu ventre. Este é um aspeto essencial também do
amor que Deus nutre por todos os seus filhos, especialmente pelos membros do
povo que gerou e deseja criar e educar: perante as suas fragilidades e
infidelidades, o seu íntimo comove-se e estremece de compaixão (cf. Os 11, 8).
Mas Ele é misericordioso para com todos, o seu amor é para todos os povos e a
sua ternura estende-se sobre todas as criaturas (cf. Sl 144, 8-9).
A misericórdia encontra a sua
manifestação mais alta e perfeita no Verbo encarnado. Ele revela o rosto do
Pai, rico em misericórdia: «não somente fala dela e a explica com o uso de
comparações e parábolas, mas sobretudo Ele próprio a encarna e a personifica»
(JOÃO PAULO II, Enc. Dives in misericordia, 2). Aceitando e seguindo Jesus por
meio do Evangelho e dos Sacramentos, com a ação do Espírito Santo, podemos
tornar-nos misericordiosos como o nosso Pai celestial, aprendendo a amar como
Ele nos ama e fazendo da nossa vida um dom gratuito, um sinal da sua bondade
(cf. Bula Misericordiae Vultus, 3). A primeira comunidade que, no meio da
humanidade, vive a misericórdia de Cristo é a Igreja: sempre sente sobre si o
olhar d’Ele que a escolhe com amor misericordioso e, deste amor, ela deduz o
estilo do seu mandato, vive dele e dá-o a conhecer aos povos num diálogo
respeitoso por cada cultura e convicção religiosa.
Como nos primeiros tempos da
experiência eclesial, há tantos homens e mulheres de todas as idades e
condições que dão testemunho deste amor de misericórdia. Sinal eloquente do
amor materno de Deus é uma considerável e crescente presença feminina no mundo
missionário, ao lado da presença masculina. As mulheres, leigas ou consagradas
– e hoje também numerosas famílias –, realizam a sua vocação missionária nas
mais variadas formas: desde o anúncio direto do Evangelho ao serviço
sociocaritativo. Ao lado da obra evangelizadora e sacramental dos missionários,
aparecem as mulheres e as famílias que entendem, de forma muitas vezes mais
adequada, os problemas das pessoas e sabem enfrentá-los de modo oportuno e por
vezes inédito: cuidando da vida, com uma acrescida atenção centrada mais nas
pessoas do que nas estruturas e fazendo valer todos os recursos humanos e
espirituais para construir harmonia, relacionamento, paz, solidariedade,
diálogo, cooperação e fraternidade, tanto no setor das relações interpessoais
como na área mais ampla da vida social e cultural e, de modo particular, no
cuidado dos pobres.
Em muitos lugares, a
evangelização parte da atividade educativa, à qual o trabalho missionário
dedica esforço e tempo, como o vinhateiro misericordioso do Evangelho (cf. Lc
13, 7-9; Jo 15, 1), com paciência para esperar os frutos depois de anos de
lenta formação; geram-se assim pessoas capazes de evangelizar e fazer chegar o
Evangelho onde ninguém esperaria vê-lo realizado. A Igreja pode ser definida
«mãe», mesmo para aqueles que poderão um dia chegar à fé em Cristo. Espero,
pois, que o povo santo de Deus exerça o serviço materno da misericórdia, que
tanto ajuda os povos que ainda não conhecem o Senhor a encontrá-Lo e a amá-Lo.
Com efeito a fé é dom de Deus, e não fruto de proselitismo; mas cresce graças à
fé e à caridade dos evangelizadores, que são testemunhas de Cristo. Quando os
discípulos de Jesus percorrem as estradas do mundo, é-lhes pedido aquele amor
sem medida que tende a aplicar a todos a mesma medida do Senhor; anunciamos o
dom mais belo e maior que Ele nos ofereceu: a sua vida e o seu amor.
Cada povo e cultura tem direito
de receber a mensagem de salvação, que é dom de Deus para todos. E a
necessidade dela redobra ao considerarmos quantas injustiças, guerras, crises
humanitárias aguardam, hoje, por uma solução. Os missionários sabem, por
experiência, que o Evangelho do perdão e da misericórdia pode levar alegria e
reconciliação, justiça e paz. O mandato do Evangelho – «Ide, pois, fazei
discípulos de todos os povos, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito
Santo, ensinando-os a cumprir tudo quanto vos tenho mandado» (Mt 28, 19-20) –
não terminou, antes pelo contrário impele-nos a todos, nos cenários presentes e
desafios atuais, a sentir-nos chamados para uma renovada «saída» missionária,
como indiquei na Exortação Apostólica Evangelii gaudium: «cada cristão e cada
comunidade há de discernir qual é o caminho que o Senhor lhe pede, mas todos
somos convidados a aceitar esta chamada: sair da própria comodidade e ter a
coragem de alcançar todas as periferias que precisam da luz do Evangelho» (n.
20).
Precisamente neste Ano Jubilar,
celebra o seu nonagésimo aniversário o Dia Mundial das Missões, promovido pela
Pontifícia Obra da Propagação da Fé e aprovado pelo Papa Pio XI em 1926. Por
isso, considero oportuno recordar as sábias indicações dos meus Predecessores,
estabelecendo que fossem destinadas a esta Obra todas as ofertas que cada
diocese, paróquia, comunidade religiosa, associação e movimento, de todo o
mundo, pudessem recolher para socorrer as comunidades cristãs necessitadas de
ajuda e revigorar o anúncio do Evangelho até aos últimos confins da terra.
Também nos nossos dias, não nos subtraiamos a este gesto de comunhão eclesial
missionário; não restrinjamos o coração às nossas preocupações particulares,
mas alarguemo-lo aos horizontes da humanidade inteira.
Santa Maria, ícone sublime da
humanidade redimida, modelo missionário para a Igreja, ensine a todos, homens,
mulheres e famílias, a gerar e guardar por todo o lado a presença viva e
misteriosa do Senhor Ressuscitado, que renova e enche de jubilosa misericórdia
as relações entre as pessoas, as culturas e os povos”.
Papa Francisco
Vaticano, 15 de maio – Solenidade de Pentecostes – de 2016.
(Fonte: www.news.va)
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