No próximo dia 18 de
junho será lançada pelo papa Francisco a nova Encíclica: Laudato si.
Desde
o início do seu pontificado o Papa Francisco tem, com frequência, falado sobre
o meio ambiente e sobre a responsabilidade do homem diante da criação. As mensagens vieram em homilias, encontros
com jornalistas e em diversos documentos nos quais o Pontífice exprimiu o seu
ponto de vista sobre estes temas.
À
luz da publicação da próxima Encíclica, rever os conceitos do Papa pode
facilitar a leitura do novo documento. Nas considerações prévias de Francisco
sobre o tema da criação, identificam-se alguns dos argumentos principais do
pontífice. Não há, contudo, nenhuma referência do Papa às teorias científicas
que descrevem as mudanças climáticas, todavia o Papa faz um convite à discussão
e ao debate destas hipóteses.
Ecologia humana
O
primeiro aspecto diz respeito ao impacto sobre os seres humanos e sobre o
ambiente do progresso econômico, das novas tecnologias e do sistema financeiro.
Em 2013, o Papa falou pela primeira vez de uma nova concepção de ecologia
humana. “Os Papas falaram de ecologia humana unicamente ligada à ecologia
ambiental... A pessoa humana está em perigo: isto é certo, a pessoa humana hoje
está em perigo, aí está a urgência da ecologia humana”.
Cultura do descarte
Um
segundo tema importante e que é uma das marcas do pontificado de Francisco: o
termo “cultura do descarte”. Contra esta, o Papa pede que sejam destacados o
valor intrínseco e a dignidade de todos os seres vivos. Ao recordar um
pensamento do Papa Bento XVI que diz que, com frequência, somos guiados pela
soberba da dominação, da posse, da manipulação e da exploração, ainda em 2013
Francisco alertou para “os homens e mulheres que são sacrificados aos ídolos do
lucro e do consumo: esta é a ‘cultura do descarte’”.
Na
Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, o Papa retomou este pensamento: “Neste
sistema que tende a destruir tudo para
aumentar os benefícios, qualquer realidade que seja frágil, como o meio
ambiente, fica indefesa perante os interesses do mercado divinizado,
transformados em regra absoluta”. (EG 56)
Soluções: cultura do encontro
No
primeiro ano de pontificado, Francisco convidou a todos os homens e mulheres de
boa vontade a refletir sobre o problema da perda e do desperdício de alimento
para identificar soluções que, enfrentando a problemática seriamente, possam
ser veículos de solidariedade e partilha com os mais necessitados.
Neste
contexto, uma outra expressão-chave do magistério de Francisco passa a ser
sublinhada: a cultura do encontro. Na metade de 2013, o Papa fez um pedido:
“Gostaria que todos nós nos comprometêssemos em respeitar e cuidar da criação,
de estar atentos a cada pessoa, de contrastar a cultura do desperdício e do
descarte para promover uma cultura da solidariedade e do encontro”.
Possibilidades da
cultura do encontro
O
Papa tem vindo a oferecer, ao longo de 2014 e deste ano, diversas vertentes da
cultura do encontro na visão cristã “que comporta um juízo positivo sobre a
idoneidade das intervenções sobre a natureza para tirar-lhe proveito”.
No
início deste ano, o Pontífice se disse “desiludido diante da falta de coragem”
da Comunidade internacional por não ter tomado decisões concretas na
conferência do clima de Lima. E auspiciou que em Paris, em dezembro próximo,
durante a nova conferência sobre as mudanças climáticas os representantes
“sejam mais corajosos”.
Francisco
afirmou ainda ter “bebido em diversas fontes” durante a preparação da nova
Encíclica e os quase 800 milhões de famintos do mundo detiveram as reflexões de
Francisco. Na tradicional mensagem de 1 de janeiro, no ano passado, o Papa
recordou que é “um dever obrigatório que os recursos da terra sejam utilizados
de maneira que todos possam ficar livres da fome”.
Um novo modo de viver
Na
homilia da Missa de inauguração do seu pontificado, o Papa apresentou a vocação
de cuidar da criação. “Queria pedir, por favor, a quantos ocupam cargos de
responsabilidade no âmbito econômico, político ou social, a todos os homens e
mulheres de boa vontade: sejamos ‘guardiões’ da criação, do desígnio de Deus
inscrito na natureza, guardiões do outro, do ambiente; não deixemos que sinais
de destruição e morte acompanhem o caminho deste nosso mundo!”.
Um
último, porém não menos importante aspecto a ser considerado durante a leitura
da nova Encíclica, é a tradição da Igreja à luz da Palavra do Criador e das
suas criaturas.
“Pequenos
mas fortes no amor de Deus, como São Francisco de Assis, todos os cristãos são
chamados a tomar conta da fragilidade dos povos do mundo no qual vivemos”,
afirmou o Papa mais uma vez na Evangelii Gaudium.
Respeitar a criação
hoje
De
uma meditação matutina na Casa Santa Marta, a resposta sobre como nos
posicionarmos diante da criação nos dias de hoje.
“Deus
age, continua a trabalhar e nós podemos perguntar-nos como devemos responder a
esta criação de Deus, que nasceu do amor porque Ele trabalha por amor”.
Assim,
“à primeira criação devemos responder com a responsabilidade que o Senhor nos
dá: ‘A terra é vossa, ocupai-vos dela; deixai que cresça!”.
Por
conseguinte “também nós temos a responsabilidade de fazer crescer a terra, de
fazer crescer a criação, de a preservar e fazer crescer segundo as suas leis:
nós somo senhores da criação, não donos”.
E
não devemos “apoderar-nos da criação, mas fazer com que ela possa ir em frente,
fiéis às suas leis”. (RB/BS)
Nenhum comentário:
Postar um comentário