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sábado, 14 de agosto de 2010

Artigo: O TESOURO

Pe. Alfredo J. Gonçalves, CS

O tesouro representa algo mágico na trajetória humana. Eu sempre ouvira falar dele. Lera muito sobre seu mistério sedutor e sobre sua incansável busca. Para alguns, ele estava oculto por trás das coisas, das pessoas e das relações; para outros, só poderia ser encontrado acima das coordenadas da história, ao nível do sobrenatural; outros, ainda, o colocavam para além do tempo e do espaço, numa espécie de mundo vindouro, desconhecido e fascinante.
Cedo dera-me conta que, ao longo do tempo, muitos o haviam procurando com imenso afã, gastando a vida inteira nessa tarefa. Uns poucos diziam tê-lo encontrado e procuravam divulgar sua existência enigmática através de palavras, obras e gestos simbólicos.
Não me eram estranhos os nomes de Confúcio, Buda, Mahatma Gandhi, Maomé, Jesus, Alan Kardec, Mestre Eckhart, Francisco de Assis, entre tantos outros. Popularizavam-se biografias e ditos sapienciais dessas personagens. Em tempos mais recentes, a busca parecia intensificar-se.
O tesouro ia ganhando os mais diferentes matizes. Multiforme e polifônico, aparecia em muitas obras que tomavam grande espaço nas livrarias. Títulos como Henry Porter, O Senhor dos Anéis, Código da Vinci, o Alquimista, etc. abriam uma série de labirintos na tentativa de encontrá-lo. Os nomes de Paulo Coelho, Dan Brown e Peter Jackson, por um lado, Anselm Grün, Rubem Alves, Hélder Câmara e Casaldáliga, por outro, andavam em voga.
Madre Tereza de Calcutá, Dalai Lama e Chico Xavier ganhavam crescente notoriedade e adesão. A busca, porém, não tem fim.
O tesouro se revela e se esconde, alternadamente. Multiplicam-se e diferenciam-se as expressões de sua procura. Alastram-se as filosofias e visões de mundo de origem oriental, ao mesmo tempo que crescem os movimentos místicos e religiosos. Também proliferam as manifestações de New Age, os melodiosos mantras, edições de CD's com música para reflexão e relaxamento.
Até na grande mídia e nos Shopping Centers o sagrado ganha espaço crescente, explorando a sede e o fascínio pela posse do tesouro escondido. Mas a busca parece avançar em círculos cerrados. Parte-se em direção a determinada meta, percorrem-se cidades, desertos, mares e montanhas, e retorna-se ao ponto de saída.
A contemplação e o misticismo, hoje em franca expansão, dificilmente logra romper o ambiente fechado e asfixiante do egoísmo, do egocentrismo, do individualismo próprios da sociedade moderna ou pós-moderna.
Círculos férreos, anéis de aço, que começam e terminam no bem-estar pessoal (diferente do bem-estar social de outras épocas), no culto ao "eu", à personalidade e à celebridade. Instala-se a tirania da beleza, do corpo esbelto, perfeito. É bem verdade que corpo e alma formam um todo indissociável e que, ao largo da história, o pensamento dualista separou dicotomicamente matéria e espírito. Mas é igualmente certo que unidade não significa fusão ou confusão.
Não raro a sedução do tesouro mescla exigências físicas e corporais com anseios mais profundos e indecifráveis. Muitas vezes, ao invés de integração, verifica-se uma subordinação de uns aos outros. Sacrifica-se o corpo ao espírito ou vice-versa. Enquanto corpos esqueléticos transmitem o padrão de beleza, filosofias mágicas pretendem apontar o caminho infalível do cobiçado tesouro.
Para a realização humana, torna-se decisivo encontrá-lo, ou pelo menos acertar sua direção. Algo como encontrar o sentido último e único da vida humana.
Que significado teriam os passos dos pobres terráqueos, errantes pela face deste planeta minúsculo, se não se orientassem em direção ao tesouro? E este parece brincar com eles, sempre lhes escapa, como se estivesse alhures. De fato, o tesouro se revela tanto mais atraente quanto mais longínquo e inacessível. Ao mesmo tempo, tanto mais desprezível quando dele tomamos posse.
A posse lhe reduz o brilho, o encanto e o mistério. De fato, é melhor descobrir o caminho do tesouro do que receber dele uma única pérola.

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