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domingo, 21 de julho de 2013

Em Francisco, a mensagem é mais forte do que o meio


Em poucos meses, com poucos gestos e palavras, o Papa Francisco revolucionou o nosso modo – decrépito – de estudar comunicação. Há décadas estávamos aferrados ao lema, espirituoso e vazio, do ex-crítico literário Marshall McLuhan, que se tornou estudioso das mídias: "O meio é a mensagem", persuadidos de que o "meio", TV, jornal, rádio ou web, determinassem a natureza profunda da mensagem. Era uma incongruência, especialmente na era ubíqua da comunicação web, mas a fórmula mágica cegava teóricos e público, hipnotizando sobre o "meio", a tecnologia corrente, e tornando-os distraídos, indiferentes à "mensagem".

O Papa Bergoglio compreendeu uma verdade que é, ao mesmo tempo, evangélica e filosófica: no mundo do online 24 horas, não é mais o instrumento, já onipotente e onipresente, que importa. Cada um, cidadão ou instituição, artesão ou empresa monopolista, tem acesso à web, mas para que uma mensagem se destaque no rumor de fundo ensurdecedor ela deve ter uma verdade própria, um significado.
Como Jesus, é preciso falar a língua de todos e, nela, entrelaçar os valores. O Papa Wojtyla comunicava com a virilidade do profeta que em vida havia se confrontado com o totalitarismo e o consumismo. O Papa Ratzinger é um intelectual, professor adorado pelos estudantes antes de 1968, em evidente desconforto com o ritmo obsessivo das mídias.
O Papa Francisco tem a felicidade de se comunicar ao vivo mundialmente como se pregasse na paróquia em Buenos Aires, de tuitar como na catequese das crianças (e deveria mudar de nome de usuário, @Pontifex é hierático demais para ele), de aparecer nos jornais como se fossem boletins do bairro. A sua comunicação encanta fiéis ou não, "funciona", como se diz na gíria, porque não tem "spin doctor", é nua em termos de estratégia nua e de relações públicas, e, portanto, crível. O papa convence porque "é" autêntico.
Quando ele se proclama só como bispo de Roma da sacada de São Pedro, depois da eleição, a praça aplaude a humildade espontânea, mas estudiosos como Alberto Melloni assinalaram imediatamente a abertura aos cristãos ortodoxos e, de fato, o Patriarca Bartolomeu vai à missa de inauguração do papa, retorno histórico desde o remoto 1054.
O telefonema de pedido de desculpas ao jornaleiro de Buenos Aires, o sanduíche levado ao guarda suíço, as longas horas de trabalho, o apelo brusco aos jovens para que "não se queixem", a advertência aos padres, freiras, prelados para não terem luxos, a decapitação da cúpula do IOR, uma conduta "não nonsense", em que a simplicidade franca prevalece sobre a intriga maquiavélica, apaixonam os católicos e atraem a atenção dos leigos.
Com a política prisioneira do cálculo de curto prazo, a cultura confusa no labirinto esnobe-niilista, entretenimento e esporte presas de vulgaridade e materialismo, o mundo busca líderes que guiem com o exemplo, não com a comunicação astuta. E a própria Igreja Católica, não só na Itália, teve escândalos a ponto de fazer Ratzinger gritar, na homilia na sexta-feira santa de 2005, o alerta sobre a sujeira que submerge o barco católico.
O Papa Francisco não minimiza os problemas, mas, com o bom senso de portenho de Buenos Aires, convida a arregaçar as mangas e seguir em frente, sem incomodar demais, com um sorriso e esperando na Providência. Estamos todos tão sedentos de valores positivos que ouvimos. Atentos à mensagem, leigos ou fiéis, esquecendo-nos do meio que o transmite, com a monotonia dos meios de comunicação padrão inflamada a confidência pessoal, de amigo.
Bergoglio arquiva McLuhan, o meio não existe mais; finalmente, a mensagem: e McLuhan, devoto católico convertido quando jovem à Igreja de Roma, certamente não se importaria ao se ver superado por "este" papa.
Em Francisco, a mensagem é mais forte do que o meio
Em poucos meses, com poucos gestos e palavras, o Papa Francisco revolucionou o nosso modo – decrépito – de estudar comunicação. Há décadas estávamos aferrados ao lema, espirituoso e vazio, do ex-crítico literário Marshall McLuhan, que se tornou estudioso das mídias: "O meio é a mensagem", persuadidos de que o "meio", TV, jornal, rádio ou web, determinassem a natureza profunda da mensagem. Era uma incongruência, especialmente na era ubíqua da comunicação web, mas a fórmula mágica cegava teóricos e público, hipnotizando sobre o "meio", a tecnologia corrente, e tornando-os distraídos, indiferentes à "mensagem".

A reportagem é de Gianni Riotta, publicada no jornal La Stampa, 09-07-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

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