De acordo com o diretor da Civiltá
Cattolica, padre Antonio Spadaro, SJ, a eleição de Bergoglio deve ser entendida
como o mais alto serviço à Ecclesia universa.
Um evento "realmente
único" para toda a Companhia de Jesus. Dessa forma Antonio Spadaro SJ,
diretor da Civiltá Cattolica, comentou a eleição de Jorge Mario Bergoglio a
Romano Pontífice, com o nome de Francisco.
O estudioso jesuíta falou como moderador na sede da Civiltá cattolica, na apresentação dos
dois istant book, Guarire dalla corruzione e Umiltá, strada verso
Dio, (Curar da corrupção e Humildade, caminho para Deus),
editora EMI, que reúne discursos e homilias do cardeal Bergoglio, durante o seu
ministério como arcebispo de Buenos Aires.
Um jesuíta que se torna
papa, de acordo com Spadaro, é um fato que pode ser explicado da seguinte
forma: "Nós fazemos um voto especial de obediência ao Papa - disse o
diretor da Civiltá Cattolica – porque ele tem uma visão mais universal da
Igreja e sabe quais são as fronteiras às quais inviar-nos. Se um de nós se
torna Papa, este fato deve ser compreendido como o mais elevado serviço à
Ecclesia universa”.
A visão da Igreja do Papa
Bergoglio é "inclusiva", disse Spadaro. Para usar as palavras do
então arcebispo de Buenos Aires, na conferência dos bispos latino-americanos em
Aparecida de 2007, a
Igreja deve evitar a "doença espiritual" da autoreferencialidade, que
a torna fechada em si mesma e a faz envelhecer.
Naquela ocasião o cardeal
Bergoglio foi muito claro: "Entre uma Igreja acidentada que sai pelas ruas
e uma Igreja doente de autoreferencialidade, não tenho dúvidas em preferir a
primeira”.
No livro Umiltà. La
strada verso Dio (Humildade. O Caminho em direção a Deus), Bergoglio
define a autoreferencialidade como a “muralha de uma ideologia defensiva”: a
atitude oposta é portanto “aquela de quem sabe ser humilde – comentou Spadaro –
de quem não vê o mundo como um inimigo mas “sabe aproximar-se dos outros”. Na
sua capacidade de aproximar-se dos outros “Papa Francisco parece um mestre”,
acrescentou o diretor da Civiltá Cattolica.
A outra mini-antologia, Guarire
dalla corruzione (Curar da corrupção), foi definida por Spadaro “uma
verdadeira bomba, especialmente nos nossos dias”. Nesta última publicação, o
Papa explica como a ideologia e a presunção de não questionar-se, sejam “o
fruto de um coração corrompido”.
Torna-se corrupto,
acrescenta Bergoglio, quando existe “cansaço da transcendência” que leva à
"frivolidade", uma atitude muito mais grave do que a luxúria ou do
que a avareza, justamente porque mancha a própria ideia da transcendência e,
portanto, do pecado.
O corrupto é aquele que
“vive enredado dentro de si mesmo” e “não tem amigos mas cúmplices, “idiotas
úteis”, continuou Spadaro, explicando o pensamento do Papa.
Além disso, quando Bergoglio
fala de "pobreza", refere-se à "pobreza jesuítica", um
conceito muito diferente da "ideologia da pobreza" e oposto à
"burguesia do espírito” e ao “clericalismo hipócrita”. “Ser realmente
pobres é ser realmente livres - disse Spadaro -. Ser corrupto é estar enroscado
numa armadilha infernal".
Uma maneira de pensar, que
de vários ângulos, segue a do seu antecessor, o beato João XXIII, que em 1960
tinha confiado ao então diretor da Civiltá Cattolica, padre Roberto Tucci SJ
(mais tarde criado cardeal), que os rígidos protocolos do Vaticano o colocavam
numa posição desconfortável e o faziam sentir-se “como um preso”. Papa Roncalli
aspirava ser um “bonus pastor para todos, próximo do povo”.
Tal como o seu antecessor
imediato Bento XVI, o Papa Francisco está lutando "contra as raízes da
crise do Ocidente" e "contra a corrupção". Ambos os papas, ainda
tão diferentes, aparecem como baluartes "contra a crise da liberdade no
momento da crise do Ocidente, que é também econômica, mas não só".
Papa Francesco, disse
Spadaro, não pode portanto ser assimilado a alguma “categoria política ou
sociológica”, mas apresenta uma “profundidade de conteúdo que deve ser
compreendida”.
Os seus livros apresentados
hoje não são de “pura devoção” e nem sequer de “pura denúncia”. O compromisso
social que o Papa encoraja, parte de “categorias espirituais” e a sua pregação
conduz de modo inequívoco a uma “reflexão sobre nós mesmos”.
Papa Francesco, disse
Spadaro, em uma conversa com ZENIT, vai “direto ao coração das pessoas” e une
uma “personalidade de governo” com as “capacidades pastorais” mas, ao mesmo
tempo, se apoia em “conteúdos muito fortes”.
Não é um papa "intelectual"
no sentido de que não é "abstrato", mas a sua reflexão nasce da
"ciência do espírito". Ele se baseia em um método, o da
espiritualidade inaciana que implica “grande reflexão, também em categorias
culturais de compreensão”.
O seu poder de comunicação,
é a capacidade de transmitir mensagens sem as "barreiras comunicativas
clássicas dos discursos intelectuais”. O seu "ritmo" é aquele típico
dos Exercícios Espirituais de Santo Inácio, portanto, um “ritmo ternário” que
ajuda a compreensão e a memorização, por meio das canônicas três palavras-chave
para entender, ampliar e aprofundar.
Papa Francisco, acrescentou
Spadaro, sabe usar "imagens" e "metáforas" muito fortes que
impactam a imaginação e que ajudam a memorização. Tem também uma grande
capacidade de comunicar não verbalmente, usando a “mímica”, a “gestualidade” e
o “contato físico”.
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