Páginas

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Diretrizes da Evangelização no Brasil – 2011-2015

Uma evangelização adaptada a cada época e realidade
Evangelizar é da natureza intrínseca da Igreja. Não existe para outra finalidade. Para realizá-la, precisa imbuir-se do Evangelho, realizando o que também é de sua natureza – estar sempre se aperfeiçoando como diz um princípio teológico: a Igreja está sempre em renovação (ecclesia semper reformanda).
A Boa Nova que a Igreja anuncia é Jesus Cristo. Por isso, ela deve sempre partir dele. Naturalmente, anunciando-o de forma contextualizada, inculturada, atualizada.
A propósito, João XXIII, na abertura do Concílio Ecumênico Vaticano II, há quase 49 anos, em 11 de setembro de 1962, indicava como seu grande objetivo: retomar a doutrina da Igreja, recebida de Cristo, e expô-la numa linguagem nova, mais inteligível aos homens de hoje, mais de acordo com as exigências atuais. Dar roupagem nova a uma doutrina antiga (Revisitar o Concílio Vaticano II, Dom Demétrio Valentini, Edições Paulinas, 2011, p. 22).
Assim, Cristo anunciado na África, na Europa, na Ásia, na América Latina, aqui na Diocese de Erexim, nos centros urbanos, nas periferias e no meio rural é o mesmo, mas a linguagem e a metodologia deverão ser específicas. João Paulo II falava de uma nova evangelização, com novo ardor, novos métodos e novas expressões.
Para realizar uma evangelização sempre mais genuína, respondendo aos desafios das mudanças rápidas e profundas (Doc. do Concílio Vaticano II, a Igreja no Mundo de hoje, Gaudium et Spes, 4 e 5), que estabelecem uma mudança de época (Doc. de Aparecida, 44), a Igreja no Brasil, a cada 4 anos, na Assembléia da CNBB, estabelece Diretrizes Gerais de sua Ação Evangelizadora (DGAE).
Até 1995, elas se chamavam Diretrizes da Ação Pastoral. A mudança para a Ação Evangelizadora ressalta a dimensão missionária. Não basta uma ação de animação das comunidades já constituídas e das pessoas que delas participam. Isto seria um trabalho de mera conservação, quando o desafio maior é a inovação, é buscar quem deixou a participação comunitária ou participa esporadicamente, bem como os que se declaram sem fé.
Oportuno observar que a cada quadriênio, a CNBB primeiro estabelece as Diretrizes da Evangelização e depois elege a Presidência, o Conselho Episcopal de Pastoral e os membros de outros organismos da instituição. Aponta o trabalho a ser desenvolvido e escolhe o grupo para coordenar a execução do mesmo.
Natureza e finalidade das Diretrizes
Segundo a apresentação do documento, são tentativa de escutar os sinais dos tempos e os desafios que neles se manifestam e uma resposta aos mesmos. São convite a todos os batizados a assumirem, como discípulos missionários, o mandato de Jesus Cristo: “ide pelo mundo inteiro e anunciai a Boa-Nova a toda criatura” (Mc 16,15). Esperam que, cada vez mais, se creia que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, se tenha a vida em seu nome (cf Jo 20,31). Conforme a Introdução do Documento, são rumos que indicam o caminho a seguir, abordando aspectos prioritários da ação evangelizadora, princípios norteadores e urgências irrenunciáveis.
Contexto das Diretrizes
O Documento de Aparecida (DAp), elaborado pela Quinta Conferência Geral do Episcopado Latino-americano e Caribenho, de 13 a 31 de maio, em Aparecida, SP; a Exortação Apostólica Pós-sinodal (12ª Assembleia Ordinária do Sínodo dos Bispos, de 05 a 26/10/2008), Verbum Dominni, sobre a Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja, de Bento XVI, publicada em 30 de setembro de 2010, festa de São Jerônimo; a realidade em processo de transformações rápidas e profundas, que caracterizam uma mudança de época; a passagem dos 50 anos do Concílio Vaticano II, realizado de 1962 a 9165 e a preparação da 13ª Assembleia do Sínodo dos Bispos, em outubro de 2012, sobre a nova Evangelização.
Cristo, princípio, centro e fim da evangelização
 O primeiro capítulo das Diretrizes contempla Jesus Cristo e seu Reino. Ele “é nossa razão de ser, origem de nosso agir, motivo de nosso pensar e sentir” (nº 4). Ele é a Palavra do Pai que se fez um de nós, o Verbo que arma sua tenda em nosso meio (5 e 6). Ele é ser totalmente para os outros, em doação gratuita. Quem faz a experiência de vida com Ele, marcará sua existência com duas atitudes fundamentais (nº 8): alteridade (viver para os outros) e gratuidade (doação sem medidas). Elas são fonte de paz, reconciliação e fraternidade (nº 10). Imbuído destas atitudes, o discípulo de Cristo, cabeça da Igreja, vive em comunidade (nº 14), contesta a impunidade, a corrupção e todas as formas de desrespeito aos direitos básicos de toda pessoa (nº 11). Saberá superar o agudo apelo ao individualismo hedonista, ao incessante apelo ao consumismo e às propostas religiosas de um encontro com Deus sem efetivo compromisso cristão e formação de comunidade (nº 15).
Marcas de nosso tempo
Condição indispensável para evangelizar é conhecer a realidade à luz da fé, em atitude de discernimento (nº 17). A realidade é sempre mais complexa do que se imagina (nº 18), gerando tempo de incerteza, individualismo e solidão (nº 64). A realidade atual é marcada pela globalização, com transformações em todos os setores da vida humana, caracterizando uma mudança de época (nº 19). Estas transformações afetam os critérios de compreensão, os valores mais profundos, com duas consequências mais acentuadas: o relativismo e os fundamentalismos, desdobrados em laicismo, com forte oposição à Igreja e à verdade do Evangelho, em irracionalidade, em amoralismo generalizado, desrespeito ao povo (nº 20). No individualismo exacerbado desta cultura, crescem propostas de felicidade, realização e sucesso pessoal, em prejuízo do bem comum e da solidariedade. Tornam-se difíceis atitudes altruístas, solidárias e fraternas. Por vezes, os pobres são considerados supérfluos e descartáveis (nº 21). O individualismo se infiltra também em ambientes religiosos, com a busca de Cristo como garantia de prosperidade material, saúde física e realização afetiva. Propaga-se experiência religiosa de momentos, de cunho individualista e comercial (nº 22). Claro, ela é causada pelas incontáveis carências de condições de grande parte da população para enfrentar problemas de saúde, trabalho, moradia e outros.
Urgências na ação evangelizadora
Diante de tantos desafios da realidade atual, não basta uma pastoral de conservação, mas é necessária uma conversão pastoral, uma ação decididamente missionária. Na busca de caminhos para a transmissão e a sedimentação da fé neste contexto de transformações profundas, o documento das Diretrizes identifica cinco urgências na evangelização. Elas indicam o que a própria Igreja deseja ser: uma Igreja em estado permanente de missão, casa da iniciação à vida cristã, fonte de animação bíblica de toda a vida, comunidade de comunidades, a serviço da vida em todas as instâncias (nº 29).
- Igreja em estado permanente de missão (nº 30 a 36)
Continuadora da obra de Cristo, missionário do Pai, a Igreja é intrinsecamente missionária. Quem se apaixona por Cristo, não pode viver sem comunicá-lo pelo testemunho e pelo anúncio. A realidade mencionada torna a missão urgente, ampla e includente. É urgente e indispensável todo discípulo sair ao encontro das pessoas, famílias, comunidades para compartilhar a experiência do encontro com Cristo, numa comoção missionária. Nesta retomada missionária, deve-se redescobrir o papel de cada batizado e batizada. Seu testemunho, a partir do qual se dá o anúncio explícito da Boa Nova da Salvação. Deve-se também descobrir estruturas pastorais adequadas para a concretização desta urgência missionária, em sintonia com a Missão Continental, proposta pela Conferência de Aparecida.
- Igreja, casa de iniciação à vida cristã (nº 37 a 43)
A fé é um dom de Deus que começa com o encontro com a pessoa de Jesus Cristo, mediado pela Igreja. O anúncio de Cristo, a iniciação à vida nele dos que respondem pela fé não se dá mais num mundo que se concebia cristão. A própria família não tem o mesmo fôlego para cumprir esta missão indispensável. Não se pode ter nada como pressuposto no permanente esforço de ajudar as pessoas a conhecer Cristo, fascinar-se por Ele e optar por segui-lo. Esta renovada apresentação de Cristo deve ser feita na perspectiva catecumenal, que não se esgota na preparação aos sacramentos.
- Igreja, lugar de animação bíblica da vida e da pastoral (nº 44 a 55)
A Palavra de Deus é luz para a vida, fonte de justiça, geradora da fé, formadora de santos. É indispensável para o fortalecimento permanente na fé do discípulo missionário de Cristo. Não há anúncio de Cristo e iniciação à vida nele sem a Palavra. Entre os vários métodos de leitura da Bíblia, priorizar a Leitura Orante como caminho para o encontro com a Palavra de Deus e com o Deus da Palavra. Atenção privilegiada deve ser dada à Liturgia, impregnada da Escritura Sagrada.
- Igreja, comunidade de comunidades (nº 56 a 64)
Vida cristã é essencialmente vida em comunidade, que pode ser territorial, transterritorial, ambiental e afetiva. Crescem hoje, especialmente entre jovens, as comunidades virtuais. Nenhuma comunidade se basta a si mesma. Não pode ser isolada, mas inserida numa rede de comunidades. A Paróquia deve ter esta característica. A setorização pode fortalecer e fazer surgir novas comunidades. Comunidade significa convívio, laços profundos, afetividade, interesses comuns, estabilidade e solidariedade. As CEBs são expressão da vitalidade da Igreja. Toda comunidade deve ser alicerçada na Palavra, celebrar e viver os sacramentos, manifestar compromisso evangelizador e missionário, especialmente com os afastados, ser solidária com os pobres. A comunidade traz consigo a necessidade da diversificação dos ministérios, especialmente os confiados aos leigos.
- Igreja a serviço da vida plena para todos
A Igreja é servidora da vida e tem compromisso com a cultura da vida, num mundo de incontáveis formas de destruição da vida, numa cultura de morte. Num mundo que privilegia o indivíduo, a ganância e o culto ao corpo, o discípulo missionário coloca sua vida a serviço dos outros, a exemplo de Cristo, e não se cala diante da vida impedida de nascer, da vida sem alimentação, casa, terra, trabalho, educação, saúde, lazer, liberdade, esperança e fé, concretizando a opção pelos pobres. Empenha-se pela preservação do planeta, depredado pela ganância e irresponsabilidade.
Perspectivas de ação
O Documento indica pistas de ação em cada uma das urgências apontadas.
- Igreja em estado permanente de missão (nº 76 a 84)
O testemunho é sempre fator de credibilidade do anúncio. É necessário identificar os grupos humanos ou categorias a serem privilegiados na evangelização, entre eles, povos indígenas e afro-descendentes e jovens. Meios eficazes para realizá-la: missões populares, visita aos diversos locais das pessoas. Eventos esportivos podem ser momentos de evangelização (Copa do Mundo e Olimpíadas no Brasil). Atenção especial deve ser dada ao ecumenismo e ao diálogo inter-religioso.
- Igreja, casa da iniciação à vida cristã
Catequese de inspiração catecumenal, formação permanente dos responsáveis por ela, itinerário catequético, atenção individualizada às pessoas com a persuasão do testemunho e da argumentação sincera na busca da verdade. Cada comunidade precisa de processo de formação permanente, que não se reduz a cursos.
- Igreja, lugar da animação bíblica da vida e da pastoral
Colocar a bíblia na mão de todos, especialmente dos pobres, com a devida iniciação no contato com a Palavra; criar e/ou fortalecer equipes de animação bíblica; incentivar formas de animação bíblica como grupos de famílias, círculos bíblicos e pequenas comunidades; promover a leitura orante da Bíblia, com seus quatro passos: leitura, meditação, oração, contemplação/ação; formação continuada de ministros e ministras da Palavra.
- Igreja, comunidade de comunidades
Desenvolver em cada comunidade o diálogo para a boa convivência e o aprofundamento da comunhão; renovar e reformular as estruturas e serviços paroquiais; setorizar as paróquias; incentivar todas as formas válidas de pequenas comunidades, com destaque para as CEBs; empenho por uma efetiva participação de todos nos destinos da comunidade, pela diversidade de carismas, serviços e ministérios – diversidade ministerial, comissões, assembleias e conselhos pastorais, pastoral orgânica e de conjunto, paróquias-irmãs, à semelhança do projeto Igrejas-irmãs, com iniciativas de partilha e comunhão de recursos.
- Igreja a serviço da vida plena para todos
Promover iniciativas de defesa da dignidade da pessoa humana; um olhar especial para a família; atenção prioritária às crianças, adolescentes e jovens; acompanhar os trabalhadores e trabalhadoras com presença em seus locais e organizações; atenção para os migrantes; promover o respeito às diferenças, o reconhecimento dos direitos das populações indígena e africana; educar para a preservação da natureza e o cuidado com a ecologia humana; incentivar a participação social e política dos cristãos nos diversos níveis e instituições, com a devida formação; empenho por políticas públicas para as condições necessárias para o bem-estar de todos; formação de pensadores e pessoas que estejam em níveis de decisão – universidades, comunicação, empresários, políticos...; possibilitar o conhecimento e a aplicação da Doutrina Social da Igreja.
Indicações de operacionalização
No seu último capítulo, as Diretrizes insistem que elas devem ser concretizadas em planos de pastoral, em nível diocesano e em todos os âmbitos e serviços eclesiais. Indicam sete passos metodológicos para tal.
Primeiro: onde estamos: olhar a realidade e avaliar a própria caminhada ou o plano pastoral vigente (nº 127).
Segundo: onde precisamos chegar: O horizonte da evangelização é o Evangelho, a presença do Reino na precariedade da história. Ver então o tríplice múnus de todo batizado: serviço da Palavra, da Liturgia e da Caridade, que se desenvolvem no âmbito da pessoa, da comunidade e da sociedade (nº 128 a 130).
Terceiro: nossas urgências pastorais: O documento indica cinco. Ver se há outra ou mais na realidade local (nº 131).
Quarto: O que queremos alcançar: são os objetivos a serem formulados (nº 132).
Quinto: Como vamos agir: São os critérios comuns de ação. Na caminhada do planejamento pastoral da Igreja no Brasil, foram acentuados dois: as seis dimensões da ação pastoral - comunitário-participativa; missionária; bíblico-catequética; litúrgica; ecumênica e do diálogo inter-religioso; sociotransformadora. Nos últimos tempos, sempre no mesmo espírito e inspiradas na Evangelii Nuntiandi, as Diretrizes sugeriram quatro exigências da ação evangelizadora - serviço, diálogo, anúncio, testemunho da comunhão (nº 133 a 135).
Sexto: O que vamos fazer: É a programação, a definição de atividades - projetos, em programas bem determinados (nº 136).
Sétimo: A renovação das estruturas: Para a realização do planejado, é necessário adaptar as estruturas ou criar outras (nº 137).

Erexim, 25 de julho de 2011, Festa de São Tiago Apóstolo e dia do motorista e do colono.
Pe. Antonio Valentini

Nenhum comentário:

Boas vindas!

Você é o visitante!