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sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Testemunho da Superiora Geral

"Gostaria de ter mil vidas
e dedicá-las todas ao anúncio
de Jesus Mestre Caminho, Verdade e Vida
e de sua Palavra"

Irmã Maria Antonieta Bruscato,
Superiora Geral
das Filhas de São Paulo.



50 anos de consagração

na vida e missão paulina.


O que Paulo me diz hoje?

Não pense que você chegou à perfeição e concluiu sua corrida. Não, você tem ainda um longo caminho a percorrer, mas o tempo é curto. Então, deixando para trás o que você já viveu, prossiga sua corrida em direção à meta que é Cristo Jesus, esperança de glória (cfr Fp 3, 12-14)

A frase paulina que ilumina meu caminho:
“Esta vida que eu vivo agora, eu a vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e se deu a si mesmo por mim” (Gl 2,20).

No seguimento de Jesus Cristo
A minha vocação religiosa tem suas raízes na Eucaristia, na Palavra de Deus e na devoção a Maria.
Nasci numa família católica, numerosa, de origem italiana. Meus pais herdaram de seus pais, italianos da região do Vêneto, sólidos princípios humanos e cristãos. Eles souberam transmitir aos filhos honestidade, amor ao trabalho, respeito pelos outros, fé e temor de Deus. Como nas demais famílias da região, também lá em casa não se ia dormir à noite sem rezar o terço, que em geral era “puxado” pelo pai. A devoção à Maria era inculcada desde o berço. A ela aprendi desde que me conheço por gente a confiar os sonhos de meu futuro. “Reze todos os dias três Ave Marias a Nossa Senhora, se você quiser ser irmã”, repetia-me singelamente uma minha irmã a quem perguntava o que fazer para ser religiosa. E assim fiz desde os 6 ou 7 anos de idade.
A Eucaristia também tem um lugar importante na minha historia vocacional. A partir da primeira comunhão o desejo de ser irmã foi crescendo sempre mais à medida em que os anos passavam e eu crescia em idade e em conhecimento e já não podia esconder o sonho de minha vida. Na família e na comunidade se sabia que eu desejava ser irmã e quando não me comportava bem vinha logo a decepção: “E fala que quer ser freira!”. A partir dos 10 ou 11 anos em cada final de ano reiterava o pedido a meus pais de deixar-me ir ao colégio. “Você é ainda muito nova, respondiam meus pais. Quando tiver 15 anos pode ir, antes não porque você não sabe o que está fazendo”. O jeito era obedecer e continuar rezando as três Ave Marias todos os dias, rezar o terço e participar da Eucaristia, ir à escola, cuidar dos irmãozinhos, ajudar em casa e ajudar as manas mais velhas que haviam se casado e tinham crianças pequenas.
Posso dizer que a vocação se alimentava e crescia também com a leitura da Palavra de Deus que o jornal dos Padres Capuchinhos, Correio Riograndense, trazia semanalmente. Lembro-me como se fosse hoje a forte emoção que senti quando li em uma das edições as palavras do Evangelho: “Céus e terra passarão, mas as minhas palavras não passarão”. Trago ainda na mente a reflexão que aquelas palavras provocaram em mim quando ainda não havia completado 10 anos de idade: “Se as palavras de Jesus não passam então são verdadeiras e se são verdadeiras é preciso que todos as conheçam”.
Foi neste ambiente de fé, simplicidade, trabalho, austeridade nas relações e liberdade de movimento – meus pais tiveram 14 filhos, dos quais sou a 10ª, não tinham muito tempo para acariciar seus filhos e não tinham muitos bens para dar-lhes. Exigiam desde cedo dos filhos responsabilidade, ajuda nos trabalhos domésticos, cuidado dos irmãos menores, ajuda no campo, no cuidado dos animais, ir à escola e voltar logo que havia terminado para ajudar...- que cresci como a flor do campo, respirando o ar puro dos bosques, colhendo frutas silvestres e do pomar, sentindo o perfume das flores, correndo pelas campinas, cavalgando o bom cavalo branco, brincando de boneca, jogando bola, encenando a vida real nas tardes de domingo em que o tempo era insuficiente para esgotar a fantasia infantil em mil manifestações jocosas. A escola e o catecismo deram complemento às lições de casa.
Tinha 13 anos quando entendi que havia chegado a hora de partir. Era final de ano, as aulas haviam terminado. Na despedida dos colegas eu tinha a certeza que no ano seguinte já não estaria com eles. Meus pensamentos já estavam em Cotiporã onde duas primas já haviam consagrado a Deus sua vida, fazendo os votos religiosos com as Irmãs de Nossa Senhora Aparecida de Porto Alegre. Pensava que, se eu apresentasse aos pais o plano de unir-me a elas, seria mais fácil convencê-los de deixar-me ir, mesmo antes da idade que eles julgavam ideal para uma jovem entrar no convento, isto é, 15 anos.
Mas Deus que havia posto seu olhar sobre mim bem antes de meu nascimento, embora eu ignorasse sua escolha, havia já preparado lugar de minha consagração, a Congregação do meu futuro. Sem que eu as conhecesse e sem que elas me conhecessem, quando nos encontramos pela primeira vez na casa de meus pais, ninguém conseguiu me segurar. Foi realmente amor à primeira vista. “Com essas Irmãs eu vou, disse no meu coração, quando as Irmãs Paulinas quiseram me conhecer porque uma tia havia falado a elas de meu desejo de ser religiosa. Na semana seguinte deste encontro eu entrei na Congregação das Irmãs Paulinas em Porto Alegre. Era dia 21 de novembro de 1951, festa da apresentação de Jesus no templo. À incerteza de meus pais de deixar-me partir, meus irmãos diziam: “deixem que vá. Daqui a um mês ela estará de volta”. Passaram-se 57 anos daquele dia decisivo que marcou minha existência e para Nova Alvorada só voltei para visitar os que lá ficaram.

Depois dos anos de formação em Porto Alegre e em São Paulo, aos 20 anos de idade fiz os primeiros votos. Aos 25, os votos perpétuos. Dediquei minha vida ao anuncio do Evangelho com os meios de comunicação social, segundo a missão da Congregação, visitando as famílias para oferecer a Palavra de Deus através da boa leitura, da boa música e do bom filme. Dediquei-me à formação das jovens vocacionadas, à coordenação das atividades apostólicas e das comunidades da Congregação. Vivi no Brasil, na Colômbia e na Itália, onde me encontro atualmente. Hoje aos 70 anos de idade e 50 de vida consagrada, posso fazer minhas as palavras de Irmã Tecla Merlo, Co-fundadora da Congregação:

“Gostaria de ter mil vidas e dedicá-las todas ao anúncio de Jesus Mestre Caminho, Verdade e Vida e de sua Palavra”.

E com o Apóstolo Paulo:

Tudo o que quero é conhecer a Cristo e sentir em mim o poder da sua ressurreição” (Fp 3,10).

Irmã Maria Antonieta,
com você, louvamos o Senhor
que a amou,
escolheu
e chamou
para viver nele e por ele,
levando a Palavra a todos!

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