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sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Entrevista: A cruz na ótica de Paulo


Irmã Ágda Maria Santana de França, paulina, acaba de apresentar seu trabalho de conclusão do curso de Teologia no Instituto São Paulo de Estudos Superiores (ITESP) com o tema “A cruz na ótica de Paulo – sinal de fraqueza e de redenção”. Em entrevista, Irmã Ágda fala de seu trabalho.

Ir. Patrícia – Irmã Ágda, o que a motivou a escolher este tema?
Ir. Ágda - “A cruz na ótica de Paulo – sinal de fraqueza e de redenção” é fruto do desafio para aprofundar um tema que me conduzisse a uma experiência de fé, com a morte de meu pai, a provocação para a busca de melhor compreensão do sofrimento.

Ir. PatríciaSem contar também que estamos no Ano Paulino e você é uma paulina.
Ir. Ágda
– Este é o outro motivo da minha escolha do tema. O Apóstolo Paulo é modelo e o Pai da congregação das Irmãs Paulinas da qual faço parte. O bem-aventurado Tiago Alberione, fundador da Família Paulina, insiste que, como Filha de São Paulo, preciso conhecê-lo a fundo. Assim, entrar na dinâmica de aprofundar a vida de Paulo é também como que tomar posse de uma herança por direito e dever.

Ir. Patrícia – Ir. Ágda, como você aborda o tema?
Ir. Ágda – Primeiro, traço um percurso a partir das origens de Paulo, ou seja, um caminho desde o seio familiar, cultural, sua formação de judeu da diáspora até o evento de Damasco e a postura de vida que ele assume daí em diante. O que Lucas chama de conversão nos Atos dos Apóstolos, ou o que Paulo reconhece como vocação em seus escritos, intervenção gratuita de Deus, dá a chave de interpretação para sua vida e ação. É no encontro com Jesus ressuscitado – quando Paulo “cai por terra”, é desarmado, rendido - que o grande perseguidor torna-se apóstolo de Jesus, por vontade de Deus.

Ir. Patrícia – Você destaca algum aspecto específico em Paulo?
Ir. Ágda – Trato também de alguns aspectos, inseparáveis da vida de Paulo, como: ser apóstolo de Jesus Cristo, missionário itinerante que chega aos centros urbanos mais movimentados do Império Romano, fundador de comunidades; a ajuda de colaboradores e os escritos como forma de se manter presente junto às comunidades.

Ir. Patrícia – Você coloca no título de seu trabalho, a cruz como sinal de fraqueza e redenção. Como explica isto?
Ir. Ágda - “A cruz na ótica de Paulo – sinal de fraqueza e de redenção” é o título. O Evangelho anunciado por Paulo é o próprio Jesus em sua condição de Messias crucificado, mas ressuscitado. Cruz e ressurreição são inseparáveis, são como as duas faces de uma moeda. Daí a insistência de Paulo junto às comunidades, de modo particular a comunidade de Corinto, que recebe em seus escritos o discurso da “loucura da cruz” como condição para ser fiel à mensagem de Jesus. É preciso reconhecer no não-poder, no drama escandaloso da cruz, no insucesso, na fragilidade extrema, o lugar da ação de Deus. Assim entendida, a cruz é redenção, expressão máxima do amor de Deus que transforma a cruz de um marginalizado em cruz salvífica.

Ir. Patrícia – Irmã Ágda, você não acha que, humanamente, é difícil compreender a cruz?
Ir. Ágda – É verdade. Para a lógica humana a cruz é incompreensível. Só quem se coloca à disposição para assumir a fragilidade, a incapacidade, a incorrespondência, com a ótica a fé, é capaz de vislumbrar com outro olhar a força que surge da morte. Em outras palavras, só quem se sente necessitado, é capaz de acolher a bondade e a misericórdia de Deus.

Patrícia – E hoje, podemos dizer que a cruz tem sentido na vida do povo?
Ir. Ágda – Trato exatamente disto no terceiro capítulo. É uma tentativa de atualização do tema da cruz, ou seja, a cruz que marca a vida do cristão, de modo particular daqueles que, como Jesus, são vítimas de injustiças e encontram no crucificado um consolo para suas dores. A cruz retrata para estes desfavorecidos um sentido de esperança, um sentido de solidariedade, um sentido de comunhão. O sofrimento por si
torna-se insuportável, ou no mínimo, muito mais pesado para quem não lhe dá um sentido.

Ir. Patrícia – A visão paulina da cruz não pode parecer masoquismo, conformismo?
Ir. Ágda – Na verdade, Paulo Apóstolo concentra sua teologia na cruz, ou seja, na morte e ressurreição de Jesus. Para ele a cruz não é abstrata, mas conseqüência do comprometimento de toda a vida de Cristo Jesus. Portanto, nada de masoquismo ou conformismo.

Ir. Patrícia – Neste sentido, quem são os crucificados de hoje?
Ir. Ágda – Jon Sobrino destaca que o povo sofrido é o corpo de Cristo crucificado. A cruz reflete uma situação de injustiça institucionalizada. Isto tem acontecido em diversas áreas de conflito quem envolvem as relações humanas. Aí se entende a expressão de Paulo: “completo em minha carne o que falta à Paixão de Cristo”.

Ir. Patrícia – Para finalizar, gostaria que você falasse da cruz como esperança.
Ir. Ágda – Nas contradições da vida, é possível a comunhão quando se tem o coração esvaziado da prepotência do possuir. Que tinha mais Jesus a oferecer, doando sua vida, a não ser a solidariedade com os marginalizados da sociedade? O pobre compreende isso. Gostaria de concluir trazendo como exemplo a cruz andina. Nos Andes, a cruz (chakana) está presente nos cumes dos montes mais altos. Ela é de cor verde, sem o corpo do crucificado. A cor verde é símbolo da vida. Ela também encarna a dor e o sofrimento, quando retrata a memória do “Senhor sofredor”. Os andinos vivem todas as celebrações da semana santa como sinal de esperança. Daí a inclusão da 15ª Estação, na via-sacra : Jesus ressuscita dos mortos.

Parabéns Irmã Ágda!
Nós, a Província do Brasil,
todas crescemos com este seu esforço e conquista.
A Igreja também!
Sentimo-nos felizes com você
por esta linda homenagem a São Paulo,
no Ano Paulino!
Observação: você pode postar abaixo um comentário ou saudação a Irmã Ágda ou enviar-lhe diretamente sua mensagem para: agda.franca@paulinas.com.br

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