Irmã Ágda Maria Santana de França, paulina, acaba de apresentar seu trabalho de conclusão do curso de Teologia no Instituto São Paulo de Estudos Superiores (ITESP) com o tema “A cruz na ótica de Paulo – sinal de fraqueza e de redenção”. Em entrevista, Irmã Ágda fala de seu trabalho.
Ir. Patrícia – Irmã Ágda, o que a motivou a escolher este tema?
Ir. Ágda - “A cruz na ótica de Paulo – sinal de fraqueza e de redenção” é fruto do desafio para aprofundar um tema que me conduzisse a uma experiência de fé, com a morte de meu pai, a provocação para a busca de melhor compreensão do sofrimento.
Ir. Patrícia – Sem contar também que estamos no Ano Paulino e você é uma paulina.
Ir. Ágda – Este é o outro motivo da minha escolha do tema. O Apóstolo Paulo é modelo e o Pai da congregação das Irmãs Paulinas da qual faço parte. O bem-aventurado Tiago Alberione, fundador da Família Paulina, insiste que, como Filha de São Paulo, preciso conhecê-lo a fundo. Assim, entrar na dinâmica de aprofundar a vida de Paulo é também como que tomar posse de uma herança por direito e dever.
Ir. Patrícia – Ir. Ágda, como você aborda o tema?
Ir. Ágda – Primeiro, traço um percurso a partir das origens de Paulo, ou seja, um caminho desde o seio familiar, cultural, sua formação de judeu da diáspora até o evento de Damasco e a postura de vida que ele assume daí em diante. O que Lucas chama de conversão nos Atos dos Apóstolos, ou o que Paulo reconhece como vocação em seus escritos, intervenção gratuita de Deus, dá a chave de interpretação para sua vida e ação. É no encontro com Jesus ressuscitado – quando Paulo “cai por terra”, é desarmado, rendido - que o grande perseguidor torna-se apóstolo de Jesus, por vontade de Deus.
Ir. Patrícia – Você destaca algum aspecto específico em Paulo?
Ir. Ágda – Trato também de alguns aspectos, inseparáveis da vida de Paulo, como: ser apóstolo de Jesus Cristo, missionário itinerante que chega aos centros urbanos mais movimentados do Império Romano, fundador de comunidades; a ajuda de colaboradores e os escritos como forma de se manter presente junto às comunidades.
Ir. Patrícia – Você coloca no título de seu trabalho, a cruz como sinal de fraqueza e redenção. Como explica isto?
Ir. Ágda - “A cruz na ótica de Paulo – sinal de fraqueza e de redenção” é o título. O Evangelho anunciado por Paulo é o próprio Jesus em sua condição de Messias crucificado, mas ressuscitado. Cruz e ressurreição são inseparáveis, são como as duas faces de uma moeda. Daí a insistência de Paulo junto às comunidades, de modo particular a comunidade de Corinto, que recebe em seus escritos o discurso da “loucura da cruz” como condição para ser fiel à mensagem de Jesus. É preciso reconhecer no não-poder, no drama escandaloso da cruz, no insucesso, na fragilidade extrema, o lugar da ação de Deus. Assim entendida, a cruz é redenção, expressão máxima do amor de Deus que transforma a cruz de um marginalizado em cruz salvífica.
Ir. Patrícia – Irmã Ágda, você não acha que, humanamente, é difícil compreender a cruz?
Ir. Ágda – É verdade. Para a lógica humana a cruz é incompreensível. Só quem se coloca à disposição para assumir a fragilidade, a incapacidade, a incorrespondência, com a ótica a fé, é capaz de vislumbrar com outro olhar a força que surge da morte. Em outras palavras, só quem se sente necessitado, é capaz de acolher a bondade e a misericórdia de Deus.
Patrícia – E hoje, podemos dizer que a cruz tem sentido na vida do povo?
Ir. Ágda – Trato exatamente disto no terceiro capítulo. É uma tentativa de atualização do tema da cruz, ou seja, a cruz que marca a vida do cristão, de modo particular daqueles que, como Jesus, são vítimas de injustiças e encontram no crucificado um consolo para suas dores. A cruz retrata para estes desfavorecidos um sentido de esperança, um sentido de solidariedade, um sentido de comunhão. O sofrimento por si
torna-se insuportável, ou no mínimo, muito mais pesado para quem não lhe dá um sentido.
Ir. Patrícia – A visão paulina da cruz não pode parecer masoquismo, conformismo?
Ir. Ágda – Na verdade, Paulo Apóstolo concentra sua teologia na cruz, ou seja, na morte e ressurreição de Jesus. Para ele a cruz não é abstrata, mas conseqüência do comprometimento de toda a vida de Cristo Jesus. Portanto, nada de masoquismo ou conformismo.
Ir. Patrícia – Neste sentido, quem são os crucificados de hoje?
Ir. Ágda – Jon Sobrino destaca que o povo sofrido é o corpo de Cristo crucificado. A cruz reflete uma situação de injustiça institucionalizada. Isto tem acontecido em diversas áreas de conflito quem envolvem as relações humanas. Aí se entende a expressão de Paulo: “completo em minha carne o que falta à Paixão de Cristo”.
Ir. Patrícia – Para finalizar, gostaria que você falasse da cruz como esperança.
Ir. Ágda – Nas contradições da vida, é possível a comunhão quando se tem o coração esvaziado da prepotência do possuir. Que tinha mais Jesus a oferecer, doando sua vida, a não ser a solidariedade com os marginalizados da sociedade? O pobre compreende isso. Gostaria de concluir trazendo como exemplo a cruz andina. Nos Andes, a cruz (chakana) está presente nos cumes dos montes mais altos. Ela é de cor verde, sem o corpo do crucificado. A cor verde é símbolo da vida. Ela também encarna a dor e o sofrimento, quando retrata a memória do “Senhor sofredor”. Os andinos vivem todas as celebrações da semana santa como sinal de esperança. Daí a inclusão da 15ª Estação, na via-sacra : Jesus ressuscita dos mortos.
Ir. Ágda – Jon Sobrino destaca que o povo sofrido é o corpo de Cristo crucificado. A cruz reflete uma situação de injustiça institucionalizada. Isto tem acontecido em diversas áreas de conflito quem envolvem as relações humanas. Aí se entende a expressão de Paulo: “completo em minha carne o que falta à Paixão de Cristo”.
Ir. Patrícia – Para finalizar, gostaria que você falasse da cruz como esperança.
Ir. Ágda – Nas contradições da vida, é possível a comunhão quando se tem o coração esvaziado da prepotência do possuir. Que tinha mais Jesus a oferecer, doando sua vida, a não ser a solidariedade com os marginalizados da sociedade? O pobre compreende isso. Gostaria de concluir trazendo como exemplo a cruz andina. Nos Andes, a cruz (chakana) está presente nos cumes dos montes mais altos. Ela é de cor verde, sem o corpo do crucificado. A cor verde é símbolo da vida. Ela também encarna a dor e o sofrimento, quando retrata a memória do “Senhor sofredor”. Os andinos vivem todas as celebrações da semana santa como sinal de esperança. Daí a inclusão da 15ª Estação, na via-sacra : Jesus ressuscita dos mortos.
Parabéns Irmã Ágda!
Nós, a Província do Brasil,
todas crescemos com este seu esforço e conquista.
A Igreja também!
Sentimo-nos felizes com você
por esta linda homenagem a São Paulo,
no Ano Paulino!
Observação: você pode postar abaixo um comentário ou saudação a Irmã Ágda ou enviar-lhe diretamente sua mensagem para: agda.franca@paulinas.com.br
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