Páginas

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Afirmação do Papa "3ª Guerra Mundial em pedaços" chama a atenção do mundo

Dom Mario Toso, Secretário do Pontifício Conselho da Justiça e da Paz, entrevistado pela Rádio Vaticano

 As palavras do Papa Francisco sobre como deter o “injusto agressor” no Iraque, pronunciadas no vôo de retorno de Seul, continuam a suscitar reflexões e confrontos, não só no âmbito eclesial. Também chamou a atenção a afirmação do Pontífice de que se estaria combatendo a “III Guerra Mundial, em pedaços”. Precisamente a partir daqui, parte a reflexão de Dom Mario Toso, Secretário do Pontifício Conselho da Justiça e da Paz, entrevistado pela Rádio Vaticano:

R. – O Papa Francisco expressa uma opinião bastante comum: pensando nos muitos conflitos em curso, aqui e ali, e nos diversos povos envolvidos neles, não se pode deixar de criar a ideia de que a família humana está imersa em uma parcial e potencial “Terceira Guerra Mundial”. O que deve preocupar é que, embora os limites dos conflitos pareçam circunscritos, em última análise, eles sempre representam focos dos quais podem desencadear, de um momento para outro, uma guerra global, que poderia envolver grande parte da humanidade. Conflitos semelhantes são tratados inadequadamente. Não se encontra entre aqueles que parecem estar interessados em uma solução, um desejo claro e a nítida vontade de paz e justiça. Parecem sempre prevalecer os pontos de vista particulares: jamais o bem comum da família humana, das nações ou povos de uma região. É necessário trabalhar seriamente para remover as causas que os provocam e criar as condições para a paz.

P. – “É lícito deter o injusto agressor”, disse o Papa Francisco, acrescentando: porém os modos devem ser decididos na ONU, não pode ser uma única nação a decidir. Aqui, Francisco, como seus antecessores, enfatiza a importância do multilateralismo?

R. – O discurso do Papa Francisco pareceu comedido e pensado. Ele ressaltou que o injusto agressor deve ser detido e fez entender que a forma como isso pode ser feito deve ser decidido não tanto por um único Estado, mas sim pela comunidade internacional. Em síntese, o Pontífice colocou-se não só na esteira da mais recente Doutrina Social da Igreja, mas também da comunidade internacional. Para resolver os conflitos e as agressões injustas, é indispensável referir-se a regras comuns, renunciando definitivamente à ideia de buscar a justiça através da guerra, movendo-se solitária e isoladamente. A Carta das Nações Unidas impede, como bem sabemos, não só o recurso à guerra, mas também a ameaça da mesma. É preciso, em essência, tomar caminhos alternativos: deve ser cultivada a multilateralidade como uma maneira de oferecer maiores garantias de justiça, também no caso em que se deva aplicar o princípio de responsabilidade de proteger etnias e grupos que são ameaçados de morte, como está acontecendo no Iraque pelos grupos terroristas.

P. - As palavras do Papa sacodem uma comunidade internacional em silêncio, indiferente. Também chamam em causa as instituições internacionais a agirem, a serem eficazes.....

R. – O Papa Francisco sacode a comunidade internacional, que parece distraída e lenta para intervir em favor da justiça, obrigando os Estados a fazê-lo de modo individual. De acordo com seu ensinamento, diante de questões complexas e sensíveis, de dimensões internacionais, é mais oportuna a intervenção das organizações internacionais e regionais. Devem, no entanto, ser capazes de trabalhar em conjunto para enfrentar os problemas e promover a paz. Mais uma vez, emerge a urgência de que, diante de questões globais ou de interesse global, devem existir instituições internacionais adequadas e reformadas.

Nenhum comentário:

Boas vindas!

Você é o visitante!