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sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Dom Damasceno comenta palavras do papa Francisco

O Arcebispo de Aparecida e Presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, Cardeal Raimundo Damasceno Assis, destacou em entrevista ao ‘Estadão’, a clareza e objetividade com que o Papa Francisco abordou questões delicadas, sem fugir a nenhuma pergunta nas entrevistas que deu à Rede Globo e aos jornalistas presentes no voo da Alitália, que o levou de volta para Roma. Dom Damasceno Assis, destacou na entrevista alguns pontos importantes do ensinamento do Papa Francisco durante a JMJ Rio 2013, como a urgência de a Igreja ter um espírito missionário, a acolhida aos casais divorciados, a valorização da mulher e o respeito aos homossexuais.

O Arcebispo de Aparecida observou que, ao responder às perguntas dos jornalistas, o Papa Francisco não alterou o conteúdo, “mas, da maneira como ele coloca, sempre tem um enfoque muito pastoral, tendo sempre em vista o bem das pessoas, a missão da Igreja, que é se colocar a serviço das pessoas e da sociedade. Sempre se coloca numa atitude não recriminatória, não condenatória, mas de maneira positiva. Em seus pronunciamentos, o papa Francisco vem insistindo muito que a Igreja deve ser um sinal, um sacramento da misericórdia, do amor de Deus para com as pessoas.
Dom Damasceno Assis explicou, que na entrevista aos jornalistas no voo de retorno para Roma, o Papa Francisco expressou-se contra a discriminação aos gays, afirmando que “a Igreja deve relacionar-se com essas pessoas, deve acolhê-las, respeitá-las”. O Cardeal recordou ainda, que em outros pronunciamentos, “o Papa havia salientado que o casamento para nós é sempre a união entre um homem e uma mulher. Uma união estável e permanente, sempre fundamentada no amor, uma união aberta à vida O que não significa que não vamos acolher ou que vamos discriminar essas pessoas. Cada pessoa, se é católica, deve procurar crescer espiritualmente e buscar Jesus Cristo. A opção da pessoa nós temos de respeitar e não discriminar de forma alguma”.

Interpelado sobre possíveis mudanças na pastoral com relação aos casais em segunda união, em função de pronunciamentos do Papa Francisco sobre a questão, o Presidente da CNBB afirmou que “a Igreja tem trabalhado na pastoral com os casais de segunda união. Em muitas dioceses há encontros para o atendimento a esses casais. Não esquecemos, não abandonamos aqueles que, por uma razão ou outra, desfizeram a primeira união, seja consensualmente, seja conflitivamente, e recomeçaram a vida com nova união. Temos de estar atentos a essas pessoas. Embora não comunguem, não possam participar da eucaristia, como disse o papa também, podem obter uma declaração de nulidade da união. Voltam então à situação normal na Igreja, podem confessar-se e comungar, participar de todos os sacramentos. Quando não conseguem isso, não recorrem ao tribunal (eclesiástico, para obter a declaração de nulidade), essas pessoas podem participar de outras atividades e ser objeto de atenção muito especial da Igreja. É muito melhor a pessoa viver a segunda união de maneira estável, responsável, em paz e realizada, do que fazer tudo para viver a primeira união em conflito permanente. Isso acontece até com certa frequência. A Igreja deve acolher essas pessoas, orientá-las a recorrer ao tribunal, caso desejem, pois têm direito a esse recurso. Não podem ser condenadas e abandonadas. É preciso criar espaços, pois há outros meios de participar da vida da Igreja, como a oração, a leitura da Bíblia, a atuação em obra social, a colaboração na paróquia”.

O encontro do Papa Francisco com os Bispos do Conselho do Episcopado Latino-americano (CELAM) também foi recordado na entrevista. Dom Damasceno relatou, que nas duas oportunidades que alguns prelados tiveram de ouvir o Papa - na reunião com os Bispos do Brasil e com os Bispos do Celam - ele “chamou a atenção para o espírito da Conferência de Aparecida, procurou chamar a atenção para o que o Documento de Aparecida está dizendo para a Igreja de hoje. Ele lembrou que Aparecida não termina com um documento, mas se prolonga na missão continental. O Papa foi muito feliz ao dizer que a missão continental se projeta em duas dimensões - a dimensão programática e a paradigmática. Programática são as atividades que a Igreja vai realizando, as visitas às casas, missões populares, retiros, encontros, formação de leigos, que são atividades missionárias. A dimensão paradigmática é colocar em chave a atividade permanente, a atividade cotidiana das dioceses e das paróquias. Aparecida pede que avaliemos a Igreja, suas estruturas, seus recursos humanos e financeiros, suas realizações e suas atividades, sempre em chave missionária, isto é, como essa Igreja está a serviço da missão. Isso é que é fundamental, o papa está chamando a atenção para isso. As energias devem estar voltadas para isso. O papa está chamando a atenção para a necessidade de impregnar a nossa Igreja, a nossa organização, as nossas estruturas, com esse espírito missionário. A consequência será a mudança das estruturas. O papa falou que são caducas e muitas delas não se renovam se não houver esse espírito missionário, essa ótica. A Igreja existe, como já dizia Paulo VI, para a missão, para evangelizar. Se não faz isso, não tem razão de ser. O papa tem batido nisso muito forte, a Igreja a serviço do mundo e não o mundo a serviço da Igreja nesse sentido, o papa pede aos bispos que façam que suas igrejas locais (dioceses) e as paróquias sejam missionárias”.

O papel dos leigos nesta Igreja missionária desejada por Francisco também foi destacado na entrevista. “A Igreja tem de abrir espaço para os leigos – afirmou Dom Raimundo. Não podemos clericalizar os leigos e os leigos não podem deixar-se clericalizar. O Papa chamou a atenção para isso”.
E ao tratar do papel da mulher na Igreja, o Presidente da CNBB reiterou que a Igreja “deve abrir espaço para o leigo, mas também para o homem ou a mulher, nos conselhos pastorais e administrativos nas paróquias e nas dioceses. O Papa disse que, quando era Arcebispo de Buenos Aires, percebia que as paróquias não tinham seus conselhos. Nisso estamos atrasados – admitiu Dom Raimundo. Francisco advertiu que não basta abrir as portas das igrejas, mas que é preciso sair em busca das pessoas. É o espírito missionário. Missão significa ser enviado ao encontro das pessoas. Paróquias missionárias são aquelas que se preocupam não só em acolher as pessoas e prestar um serviço, como agências prestadoras de serviço, mas em sair ao encontro das ovelhas. Como disse o Papa, o pastor tem de sentir o cheiro das ovelhas, conhecer o seu povo, ser solidário com seu povo, sobretudo com os mais pobres. O Papa tem insistido muito nesse ponto. Não só os pobres de bens materiais, mas também no sentido religioso”.

Ao final da entrevista, Dom Raimundo Damasceno Assis revelou que a CNBB pretende publicar todos os discursos do Papa Francisco proferidos na sua estada no Brasil durante a JMJ. Também será feita uma avaliação das mensagens de Francisco na próxima reunião do Conselho Episcopal Pastoral a ser realizada neste mês de agosto. “Vamos aprofundar os pronunciamentos aos Bispos do Brasil e do CELAM, assim como a homilia feita na Catedral. Vamos refletir sobre o que podemos acentuar na ação evangelizadora da Igreja no Brasil”, concluiu Dom Damasceno Assis.
Fonte: news.va

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Palavras do papa Francisco no Brasil
Esta obra apresenta os discursos do papa Francisco na sua primeira viagem ao Brasil, por ocasião da XXVIII Jornada Mundial da Juventude.
Francisco contagiou a todos com seu testemunho de humildade e simplicidade, de proximidade e ternura com o povo. Mas também se deixou contagiar com a calorosa acolhida do povo brasileiro e dos peregrinos vindo de várias partes do mundo.
Francisco gritou à Igreja toda a urgência da santidade e que ela deve se voltar, de forma evangelicamente preferencial aos pobres, doentes, marginalizados, às periferias. Emocionante sua visita à favela Varginha em Manguinhos; ao Hospital São Francisco de Assis na Providência de Deus quando foi ao encontro dos dependentes químicos. 
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