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segunda-feira, 1 de julho de 2013

Papa Francisco: missão não de construir muros, mas pontes

''Francisco quer comunicar a proximidade de Deus a todas as pessoas''. 
Entrevista com Antonio Spadaro
Tendo-se completado o termo simbólico dos "100 dias", multiplicaram-se as avaliações e as análises dos primeiros meses do pontificado do Papa Francisco. O Vatican Insider falou sobre isso com o padre Antonio Spadaro, jesuíta como o pontífice, diretor da revista quinzenal Civiltà Cattolica que, desde a sua criação no século XIX, é publicada com o imprimatur da Secretaria de Estado vaticana.
Spadaro encontrou Francisco, juntamente com os outros escritores da revista, na sexta-feira, 14 de junho, e, nessa ocasião, o pontífice argentino convidou a "ser duros contra as hipocrisias fruto de um coração fechado, doente. Duros contra essa doença". "Mas a sua tarefa principal não é construir muros, mas pontes – acrescentou –; é o de estabelecer um diálogo com todos os homens, também com aqueles que não compartilham a fé cristã, mas 'tem o culto de altos valores humanos', e até 'com aqueles que se opõem à Igreja e a perseguem de várias maneiras'". A reportagem é de Alessandro Speciale.

Padre Antonio, o que mais lhe chamou a atenção do Papa Francisco nesses primeiros meses de pontificado?
Ele tem uma grande carga humana, a capacidade de passar, através de gestos muito significativos, conteúdos muito fortes. Francisco consegue expressar com os seus gestos conteúdos teologicamente muito densos, graças à sua experiência de pastor, mas também de governo, primeiro como provincial da sua ordem e depois como bispo de uma diocese, e a sua experiência de proximidade com as pessoas às margens, de diálogo com as pessoas também em situações difíceis.
E o fato de ele ser jesuíta teve alguma influência?
Fiquei impressionado com a sua espiritualidade inaciana. Quem como eu foi formado nessa espiritualidade pode perceber isso com clareza. Acredito que a sua formação jesuítica formou não apenas a sua visão da realidade, mas também o seu modo de falar e de articular os temas, o seu modo de estruturar o discurso em três palavras – um ritmo que desde sempre marca a retórica inaciana.
Como você descreveria o estilo de governo posto em prática até hoje pelo Papa Francisco? Até hoje, em sentido estrito, ele não "fez" muito a partir desse ponto de vista.
O papa agora quer entrar em contato com o povo de Deus. Ele está em uma fase em que escuta e se encontra com muitas pessoas, uma fase que o ajuda a refletir. Julgar a sua capacidade de ação limitando-se a essa fase não seria correto. Os seus gestos já são decisões, falam de modo muito significativo. A sua abordagem ao governo é uma abordagem gradual que inclui o fato de escutar a todos, recebendo as informações úteis para tomar as decisões necessárias. Isso, porém, não significa que ele não saberá decidir quando for o momento: a sua história como superior dos jesuítas na Argentina nos diz claramente que ele é um homem de decisões, sim, mas não apressado. Tendo sido superior da Companhia de Jesus, ele aprendeu a assumir as suas responsabilidades e a decidir diretamente, e não através de um órgão colegial como um capítulo, mas sempre depois de ter escutado um grupo de consultores. Estamos em uma fase de consulta, não de decisões repentinas.
Antes da renúncia de Bento XVI, falava-se de uma Igreja em crise. Agora, esses temores desapareceram...
Cada pontificado tem as suas características e é preciso evitar pensar em termos de "antes" e "depois". Bento e Francisco captaram os sinais de um cansaço. O atual pontífice está fazendo perceber a dimensão da proximidade, da intimidade com as pessoas. O conteúdo fundamental do seu pontificado, até hoje, é o da misericórdia de Deus "a todo custo", por assim dizer, mesmo em lugares distantes, mesmo para quem se desespera com essa misericórdia. Francisco quer comunicar a proximidade de Deus a cada pessoa. Essa mensagem até agora parece ter sido recebida muito bem.
O quão diferentes são esses dois papas? Pode-se falar de uma "reviravolta"?
Francisco está respondendo exatamente àqueles desafios que Bento XVI havia posto quando anunciou a sua renúncia. Bento, anunciando a sua renúncia, havia dito que o papa, hoje, precisa de um maior "vigor tanto do corpo, quanto da alma", em um mundo "sujeito a rápidas mudanças e agitado por questões de grande relevância para a vida da fé". Esta necessidade comprovada e declarada por Bento XVI foi captada por Francisco. Não se trata tanto de uma mudança, mas sim de uma passagem de bastão. Os desafios continuam os mesmos, mas mudam as ênfases de acordo com a experiência pessoal de cada pontífice. Com Francisco, a ênfase está nas periferias, e esse me parece ser o ponto central da sua mensagem: evitar a autorreferencialidade – a Igreja é chamada a ser missionária, a estar nas ruas, mesmo às custas de se equivocar.
Fonte: Vatican Insider, 23-06-2013

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