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sábado, 27 de julho de 2013

Homilia do Papa Francisco na Catedral do Rio em missa para bispos, padres e religiosos/as

Amados Irmãos em Cristo,
vendo esta catedral lotada com Bispos, sacerdotes, seminaristas, religiosos e religiosas vindos do mundo inteiro, penso nas palavras do Salmo da Missa de hoje: Que as nações vos glorifiquem, ó Senhor. Sim, estamos aqui reunidos para glorificar o Senhor; e o fazemos reafirmando a nossa vontade de sermos seus instrumentos, para que não somente algumas nações mas todas glorifiquem o Senhor. Com a mesma paresia (coragem, ousadia) de Paulo e Barnabé, anunciemos o Evangelho aos nossos jovens para que encontrem Cristo e se tornem construtores de um mundo mais fraterno. Neste sentido, queria refletir com vocês sobre três aspectos da nossa vocação: chamados por Deus; chamados para anunciar o Evangelho; chamados a promover a cultura do encontro.

1. Chamados por Deus: Creio que é importante reavivar em nós esta realidade que, frequentemente, damos por descontada em meio a tantas atividades do dia-a-dia: Não fostes vós que me escolhestes, mas eu que vos escolhi, diz-nos Jesus. Significa retornar à fonte da nossa chamada. No início de nosso caminho vocacional, há uma eleição divina. Temos que nos lembrar sempre deste primeiro chamado. Fomos chamados por Deus, e chamados para permanecer com Jesus, unidos a Ele de um modo tão profundo que nos permite dizer com São Paulo: Eu vivo, mas não eu, é Cristo que vive em mim. Este viver em Cristo configura realmente tudo aquilo que somos e fazemos. E esta vida em Cristo é justamente o que garante a nossa eficácia apostólica, a fecundidade do nosso serviço: Eu vos designei para irdes e para que produzas fruto e o vosso fruto permaneça. Não é a criatividade pastoral, não são as reuniões ou planejamentos que garantem os frutos, isso ajuda e muito, mas temos que ser fiel a Jesus, que nos diz com insistência: Permanecei em mim, e eu permanecerei em vós. E nós sabemos bem o que isso significa: Contemplá-lo, adorá-lo e abraçá-lo, particularmente através da nossa fidelidade à vida de oração, do nosso encontro diário com Ele presente na Eucaristia e no abraço às pessoas mais necessitadas. O “permanecer” com Cristo não é se isolar, mas é um permanecer para ir ao encontro dos demais. Vem-me à cabeça umas palavras da Bem-aventurada Madre Teresa de Calcutá: Devemos estar muito orgulhosos da nossa vocação, que nos dá a oportunidade de servir Cristo nos pobres. É nas favelas, nos cantegriles, nas Villas miseria, que nós devemos ir procurar e servir a Cristo. Devemos ir até eles como o sacerdote se aproxima do altar, cheio de alegria. Jesus, Bom Pastor, é o nosso verdadeiro tesouro; que procuremos fixar sempre mais n’Ele o nosso coração.

2. Chamados para anunciar o Evangelho. Muitos de vocês, queridos bispos e sacerdotes senão todos, vieram acompanhar seus jovens à Jornada Mundial. Eles também ouviram as palavras do mandato de Jesus: Ide e fazei discípulos entre todas as nações. É nosso compromisso ajudá-los a fazer arder, no seu coração, o desejo de serem discípulos missionários de Jesus. Certamente muitos, diante desse convite, poderiam sentir-se um pouco atemorizados, imaginando que ser missionário significa deixar necessariamente o País, a família e os amigos. Deus quer que sejamos missionários onde estivermos. Deus me mostrou que o meu território de missão estava muito mais perto: na minha pátria. Ajudemos os jovens a perceberem que ser discípulo missionário é uma consequência de ser batizado, é parte essencial do ser cristão, e que o primeiro lugar onde evangelizar é a própria casa, o ambiente de estudo ou de trabalho, a família e os amigos. Não poupemos forças na formação da juventude. Os jovens precisam ser escutados. Temos que ajudá-los e ter a paciência de escutar. São Paulo usa uma bela expressão, que se tornou realidade na sua vida, dirigindo-se aos seus cristãos: Meus filhos, por vós sinto de novo as dores do parto até Cristo ser formado em vós”. Também nós façamos que isso se torne realidade no nosso ministério. Ajudemos os nossos jovens a descobrir a coragem e a alegria da fé, a alegria de ser pessoalmente amados por Deus, que deu o seu Filho Jesus para nossa salvação. Eduquemo-los para a missão, para sair, para partir. Jesus fez assim com os seus discípulos: não os manteve colados a si, como uma galinha com os seus pintinhos; Ele os enviou. Não podemos ficar encerrados na paróquia, nas nossas comunidades, quando há tanta gente esperando o Evangelho. Não se trata simplesmente de abrir a porta para acolher, mas de sair pela porta afora para procurar e encontrar. Decididamente pensemos a pastoral a partir da periferia, daqueles que estão mais afastados, daqueles que habitualmente não frequentam a paróquia. Também eles são convidados para a Mesa do Senhor.

3. Chamados a promover a cultura do encontro. Em muitos ambientes, infelizmente, ganhou espaço a cultura da exclusão, a cultura do descartável. Não há lugar para o idoso, nem para o filho indesejado; não há tempo para se deter com o pobre caído à margem da estrada. Às vezes parece que, para alguns, as relações humanas sejam regidas por dois dogmas modernos: eficiência e pragmatismo. Queridos Bispos, sacerdotes, religiosos, religiosas e também vocês seminaristas, que se preparam para o ministério, tenham a coragem de ir contra a corrente desta cultura. O encontro e o acolhimento de todos, a solidariedade, palavra escondida nessas culturas, e a fraternidade são os elementos que tornam a nossa civilização verdadeiramente humana. Temos de ser servidores da comunhão e da cultura do encontro. Permitam-me dizer: deveríamos ser quase obsessivos neste aspecto. Não queremos ser presunçosos, impondo as “nossas verdades”. O que nos guia é a certeza humilde e feliz de quem foi encontrado, alcançado e transformado pela Verdade que é Cristo, e não pode deixar de anunciá-la.

Queridos irmãos e irmãs, fomos chamados por Deus, chamados para anunciar o Evangelho e promover com alegria a cultura do encontro. A Virgem Maria seja o nosso modelo. Na sua vida, Ela deu exemplo daquele afeto  maternal de que deve estar animados todos quantos cooperam na missão apostólica que a Igreja, tem de regenerar os homens. Não podemos esquecer das pessoas da periferia que tem sede de Deus. Que sejamos discípulos do Senhor e concedamos a todos esta graça.

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