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quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

20º Dia Mundial do enfermo: “Levanta-te e vai, a tua fé te salvou”

Mensagem do papa Bento XVI
Queridos irmãos e irmãs,
Por ocasião do Dia Mundial do enfermo, que celebraremos no próximo dia 11 de fevereiro de 2012, memória da bem-aventurada Virgem de Lourdes, desejo renovar a minha proximidade espiritual a todos os enfermos que se encontram nos locais de reabilitação e são acolhidos nas famílias, exprimindo a cada um a solicitude e afeto de toda a Igreja. Na colhida generosa e amorosa de toda vida humana, sobretudo daquela fraca e e doente, o cristão exprime um aspecto importante do próprio testemunho evangélico, sob o exemplo de Cristo, que inclinou-se sobre os sofrimentos materiais e espirituais do homem para curá-lo.

Neste ano, que constitui a preparação mais próxima do solene Dia Mundial do enfermo que se celebrará na Alemanha, no dia 11 de fevereiro de 2013, e que se deterá sobre a emblemática figura evangélica do samaritano (Lc 10, 29-37), gostaria de destacar os Sacramentos da Cura, isto é, o sacramentos da penitência e  reconciliação e da unção dos enfermos, que possuem seus naturais cumprimentos na comunhão eucarística.

O encontro de Jesus com os dez leprosos, narrado no Evangelho de São Lucas (Lc 17, 11-19), em particular as palavras que o Senhor dirige a um deles: “Levanta-te e vai; a tua fé te salvou!” (v.19), ajudam a tomar consciência da importância da fé daqueles que, agravados pelo sofrimento e pela doença, se aproximam do Senhor. No encontro com Ele podem experimentar realmente que quem crê não está nunca sozinho. Deus, de fato, no seu Filho, não nos abandona em nossas angústias e sofrimentos, mas nos é próximo, nos ajuda a levá-los e deseja curar no profundo o nosso coração (Mc 2, 1-12).

A fé daquele único leproso que, vendo-se curado, cheio de admiração e alegria, diferente dos outros, retorna imediatamente a Jesus para manifestar o próprio reconhecimento, demonstra que a saúde reconquistada é sinal de algo mais precioso que a simples cura física, é sinal da salvação que Deus nos doa através de Cristo; a mesma encontra expressão nas palavras de Jesus: a tua fé te salvou. Quem, no próprio sofrimento e doença invoca o Senhor, é certo que o seu amor não nos abandona nunca, e que também o amor da Igreja, prolongamento no tempo da sua obra salvífica, não deixa de ser manifestado. A cura física, expressão da salvação mais profunda, revela assim a importância que o homem na sua integralidade de alma e corpo representa para o Senhor. Todo Sacramento exprime e atua a proximidade de Deus, o qual, em modo absolutamente gratuito nos toca por meio das realidades materiais, que Ele assume ao seu serviço, fazendo disso instrumentos do encontro entre nós e Ele mesmo (Homilia Santa Missa do Crisma, 1º de abril de 2010). “A unidade entre criação e redenção se tornam visíveis. Os Sacramentos são expressão da corporeidade da nossa fé que abraça corpo e alma, o homem inteiro” (Homilia Santa Missa do Crisma, 21 de abril de 2011)

A missão principal da Igreja é certamente o anúncio do Reino de Deus, 'mas exatamente esse anúncio deve ser um processo de cura', enfaixar as chagas dos corações partidos (Is 61,1), segundo o encargo confiado por Jesus aos seus discípulos. (Lc 9, 1-2; Mt 10,1.5-14; Mc 6, 7-13. O binômio entre saúde física e renovação das dilacerações da alma nos ajuda, portanto, a compreender melhor os Sacramentos da cura.

O  Sacramento da Penitência já esteve por diversas vezes no centro das reflexões dos Pastores da Igreja, exatamente por causa da grande importância no caminho da vida cristã, a partir do momento que todo o valor da Penitência consiste no restituir-nos à graça de Deus unindo-nos a Ele em íntima e grande amizade (Catecismo da Igreja Católica, 1468). A Igreja, continuando o anúncio do perdão e da reconciliação ressoado por Jesus, não cessa de convidar a humanidade inteira a converter-se e a crer no Evangelho. Esse é o apelo do apóstolo Paulo: “Em nome de Cristo, sejamos embaixadores: através de nós é o próprio Deus que exorta. Nós vos suplicamos em nome de Cristo: deixai-vos reconciliar com Deus (2Cor 5,20). Jesus, na sua vida, anuncia e torna presente a misericórdia do Pai. Ele veio não para condenar, mas para perdoar e salvar, para dar esperança também na escuridão mais profunda do sofrimento e do pecado, para doar a vida eterna; assim no Sacramento da Penitência, no remédio da confissão, a experiência do pecado não degenera em desespero, mas encontra o Amor que perdoa e transforma (João Paulo II, na Exortação Apost. Pós Sinodal reconciliação e penitência, 31)

Deus, rico em misericórdia (Ef 2,4), como o pai na parábola evangélica (Lc 15, 11-32), não fecha o coração a nenhum dos seus filhos, mas os espera, os procura, os atinge onde a rejeição da comunhão aprisiona no isolamento e no desespero, pode transformar-se assim em tempo de graça para entrar em si mesmos, e como o filho prodigo da parábola, repensar na própria vida, reconhecendo os erros e faltas, sentir a saudade do abraço do Pai e percorrer o caminho em direção à sua Casa. Ele, no seu grande amor, sempre olha nossa existência e nos espera para oferecer a cada filho que volta para Ele, o dom da plena reconciliação e da alegria.

Pela leitura dos Evangelhos, emerge claramente como Jesus mostrou particular atenção aos enfermos. Ele não somente inviou os discípulos a curar-lhes as feridas (Mt 10, 8; Luc 9,2; 10,9), mas também instituiu para eles um sacramento específico: a Unção dos Enfermos. A carta a Tiago, atesta a presença desse gesto sacramental já na primeira comunidade cristã (Tg 5, 14-16): com a Unção dos enfermos, acompanhada pela oração dos presbíteros, toda a Igreja recomenda os enfermos ao Senhor sofredor e glorificado, a fim que alivie suas penas e os salve, e ainda os exorta a unirem-se espiritualmente à paixão e à morte de Cristo, para contribuir ao bem do Povo de Deus.

Tal Sacramento nos leva a contemplar o duplo mistério do Monte das Oliveiras, onde Jesus se encontrou dramaticamente diante do caminho indicado pelo Pai, o da Paixão, do supremo ato de Amor, e o acolheu. naquela hora de prova, Ele é o mediador, carregando em si, assumindo em si o sofrimento e a paixão do mundo, transformando-a em grito em direção a Deus, levando-a diante dos olhos e nas mãos de Deus, e assim, levando-a realmente ao momento da redenção (Lectio Divina, Encontro com o Clero de Roma, 18 de fevereiro de 2010). Mas o horto das Oliveiras é também o lugar do qual Ele se elevou ao Pai, e é também o lugar da redenção. Este duplo Mistério do Monte das Oliveiras é também sempre ativo no óleo sacramental da Igreja, sinal da bondade de Deus que nos toca (Homilia, Santa Missa do Crisma, 1 de abril de 2010). Na unção dos enfermos, a matéria sacramental do óleo nos vem oferecida, por assim dizer, como remédio de Deus, que nos torna certos da sua bondade, nos deve reforçar e consolar, mas que, ao mesmo tempo, além do momento da doença, nos traz a cura definitiva, a ressurreição (Tg 5, 14)

Esse Sacramento merece hoje uma maior consideração, seja na reflexão teológica, seja na ação pastoral junto aos doentes. Valorizando os conteúdos da oração litúrgica que se adaptam às diversas situações humanas ligadas à doença e não somente quando se está no fim da vida (Catecismo da Igreja Católica, 1514), a unção dos enfermos não deve ser tida como um 'sacramento menor' em relação aos outros. A atenção e o cuidado pastoral em relação aos enfermos, se de um lado é sinal da ternura de Deus para quem está no sofrimento, por outro lado traz vantagem espiritual também aos sacerdotes e a toda a comunidade cristã, na consciência que quando algo é feito ao mais pequeno, é feito ao próprio Jesus (Mt 25,40).

A propósito dos Sacramentos da Cura, Santo Agostinho afirma: “Deus cura todas as suas enfermidades. Não temais, portanto: todas as suas enfermidades serão curadas. Tu deves somente permitir que Ele te cure e não deves rejeitar as suas mãos” (Exposição sobre o Salmo 102). Se trata de meios preciosos da Graça de Deus, que ajudam o enfermo a conformar-se sempre mais plenamente com o Mistério da Morte e Ressurreição de Cristo. Junto a esses dois sacramentos, gostaria de sublinhar a importância da Eucaristia. Recebida no momento da doença, contribui em maneira singular, a operar tal transformação, associando quem se nutre do Corpo e do Sangue de Jesus à oferta que Ele fez de si mesmo ao Pai para a salvação de todos. Toda a comunidade eclesial e as comunidades paroquiais em particular, prestem atenção em assegurar a proximidade com frequência da comunhão sacramental àqueles que, por motivos de saúde e de idade, não podem chegar aos locais de culto. Em tal modo, a estes irmãos e irmãs será oferecida a possibilidade de reforçar o relacionamento com Cristo crucificado e ressuscitado, participando, com a vida oferecida por amor de Cristo, à própria missão da Igreja. Nesta prospectiva, é importante que os sacerdotes que prestam suas delicadas obras nos hospitais, nas casas de reabilitação e junto às residências dos doentes, se sintam verdadeiros ministros dos enfermos, sinal e instrumento da compaixão de Cristo, que deve chegar a cada pessoa marcada pelo sofrimento (Mensagem para a XVIII Dia Mundial dos Doentes, 22 de novembro de 2009).

A conformação ao Mistério pascal de Cristo realizada também mediante a prática da Comunhão espiritual, assume um significado particular quando a Eucaristia é ministrada e acolhida como viático. Naquele momento da existência ressoam em modo ainda mais incisivo as palavras do Senhor: “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna e Eu o ressuscitarei no último dia (Jo 6,54). A Eucaristia, de fato, sobretudo como viático é, segundo a definição de Santo Inácio de Antioquia, remédio de imortalidade, antídoto contra a morte, sacramento da passagem da morte para a vida, deste mundo ao Pai, que a todos espera na Jerusalém celeste.

O tema desta mensagem para a 20º Dia Mundial do enfermo, “Levanta-te e vai, a tua fé te salvou”, olha também para o próximo "Ano da fé" que iniciará em 11 de outubro de 2012, ocasião propícia e preciosa para redescobrir a força e a beleza da fé, para aprofundar os conteúdos e para testemunhá-la na vida de cada dia. (Carta Apostólica Porta da fé, 11 de outubro de 2011). Desejo encorajar os doentes e sofredores a encontrar sempre uma âncora segura na fé, alimentada pela escuta da Palavra de Deus, pela oração pessoal e pelos Sacramentos, enquanto convido os Pastores a serem sempre mais disponíveis para as celebrações aos enfermos. Conforme o exemplo do Bom pastor e como guias do rebanho confiado a eles, os sacerdotes sejam cheios de alegria, atenciosos com os mais fracos, os simples, os pecadores, manifestando a infinita misericórdia de Deus com as palavras seguras da esperança (Santo Agostinho, carta 95)

A todos os que trabalham no mundo da saúde, como também às famílias que nos próprios parentes vêem o rosto sofrido do Senhor Jesus, renovo o meu agradecimento e da Igreja, porque, na competência profissional e no silêncio, mesmo sem proferir o nome de Cristo, o manifestam concretamente (Homilia, Santa Missa do Crisma, 21 de abril de 2011)

A Maria, Mãe da Misericórdia e saúde dos enfermos, elevamos o nosso olhar confiante e a nossa oração, à sua materna compaixão, vivida ao lado do Filho que morria na cruz. Que ela acompanhe e sustente a fé e a esperança de cada pessoa doente e sofrida no caminho da cura das feridas do corpo de do Espirito.

A todos asseguro a minha recordação na oração, enquanto dirijo, a cada um, uma especial bênção apostólica.
Bento XVI


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