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terça-feira, 22 de novembro de 2011

Missionária é morta na Índia por defender os mais fracos


 Irmã dos camponeses é morta a golpes de machado
Irmã Valsha John, 53 anos, dos quais 24 vividos como missionária, na congregação católica das Irmãs da Caridade de Jesus e Maria, foi morta na noite do dia 17 de novembro, na porta de sua casinha alugada, na pequena aldeia de Bachuwari, distrito de Pakur.



Para matar irmã Valsha cinquenta pessoas, foram de noite, armadas com machados e bastões. Cinquenta assassinos podem fazer pensar num grupo de habitantes furiosos que se organizaram sozinhos  contra a vítima, também por motivos religiosos, num Estado como o Jharahkand (Índia norte-oriental) governado por extremistas hindus. Fizeram em pedaços o seu corpo a ponto de torná-lo “intransportável”, como disseram os policiais.
Michele Farina, do jornal Corriere della Sera, no dia 18, escreveu que a polícia procura interpretar neste sentido, também os cartazes dos guerrilheiros maoístas encontrados no lugar do delito. Mas, Irmã Valsha chamava os seus inimigos com outro nome: “a máfia do carvão”. Falou disso ao visitar a família no último mês de agosto em Kochi (Estado de Kerala), e voltou a falar disso à irmã Leena pelo telefone (“estava muito preocupada”), poucas horas antes de ser executada.
Jharhkand é o Estado que se orgulha das maiores reservas de carvão, num país como a Índia sempre carente de fontes energéticas. Segundo a agência AP o negócio é controlado em larga escala por uma máfia de mineradoras ilegais que negocia com o mercado negro. E pouco se importa com as populações nativas como os de Santhal,  antiga comunidade tribal da qual irmã Valsha se tornara defensora.
Tom Kawala, que trabalhou com ela 15 anos, contou à Asia News que a religiosa católica havia criado uma organização para frear a expropriação das terras e obter compensações das companhias mineradoras. “Há seis anos uma destas procurou apropriar-se de 9 aldeias e irmã Valsha mobilizou os pobres. Os barões do carvão apresentaram 33 denúncias contra ela”.
A vida por um fio para uma mulher que parecia encaminhada para um destino diferente: após ter feito os votos, passou a ensinar economia numa tranquila escola do Sul. Decidiu, depois, a transferir-se para Jharhkand, entre as mineradoras (e a ilegalidade) a céu aberto. As suas superioras a haviam desaconselhado. Disse o seu irmão menor, que “lhe haviam oferecido um lugar melhor, mas ela não o aceitou”. Não tinha às suas costas um convento, uma estrutura, um guarda-costas, embora já há três anos comunicasse às autoridades ser objeto de ameaças de morte. Foi presa por breve período, em 2007, após um protesto.
Os agressores não lhe inspiravam medo. O fato é que ela sabia vencer: em 2006 havia arrancado aos “barões” um pacote de compensações para uma comunidade tribal (dinheiro, postos de trabalho, escolas para as crianças) em troca da terra a escavar. O governo indiano, somente em setembro de 2011 assumiu  um tímido projeto de lei que obrigaria as companhias “a dividir com as populações locais os proventos do carvão”. Irmã Valsha foi pioneira de um direito sagrado.
Por isso, há quem veja naquele acordo (que não havia contentado a todos) a causa de ressentimentos  por uma parte da população, ressentimentos que teriam resultado no linchamento na noite entre terça e quarta-feira.
Depois  dos machados, dos bastões e da morte, veio a lama de calúnias.
O corpo “intransportável” de Valsha John foi sepultado, longe das minas e dos explorados pelos quais deu a vida. Em seus funerais, na catedral de Dumka, estavam presentes 700 pessoas.
O celebrante principal, o jesuíta pe. Varkey Chenna, recordou o "discipulado e a missão da religiosa", afirmando: "Deu a vida por Cristo, como autêntica discípula. É um exemplo para todos nós: o seu testemunho é um convite a nos pôr na sequela radical de Jesus Cristo, como verdadeiros discípulos".

Martírio da religiosa é um sinal de alerta, diz a Igreja
“O martírio de irmã Valsha é um sinal de alerta para todo o país e um desafio para a Igreja na Índia”, foi o que disse o Diretor do Centro para a justiça e a paz Prashant de Ahmedabad, o jesuíta Padre Cedric Prakash, comentando o assassinato da religiosa das Irmãs da Caridade de Jesus e Maria.
A Rádio Vaticano informou que as associações leigas e cristãs da Índia definem o fato como uma “vergonha nacional” e que a “ligação profunda entre as poderosas empresas de carvão e a máquina do Estado  custou a vida preciosa de uma mulher que estava trabalhando para assegurar os direitos fundamentais dos marginalizados”.
“As mineradoras de carvão – explicou à AsiaNews, Padre Prakash – tornaram-se cada vez mais poderosas. A ligação com a polícia e políticos é vergonhosa”. O religioso elogiou o compromisso da religiosa em favor dos mais fracos: “O cristianismo, aqui, deve ser vivido com clareza ao lado dos pobres, dos marginalizados, dos oprimidos e dos explorados. A Igreja deve apoiá-los de modo prático na sua luta por uma sociedade mais igualitária, justa e humana”.
O jesuíta, enfim, citou a Encíclica de Bento XVI, Caritas in Veritate: “O amor-caritas é uma força extraordinária, que impulsiona as pessoas a se comprometerem com coragem e generosidade no campo da justiça e da paz. É uma força que tem a sua origem em Deus, Amor eterno e Verdade absoluta”.
Para esclarecer o assassinato da Irmã Valsha, algumas associações de povos nativos assinaram um comunicado conjunto: pedem a abertura de uma investigação sobre prováveis ligações entre o homicídio e as ameaças de morte que a religiosa tinha recebido da máfia do carvão.


Um comentário:

Zélia Alexandre disse...

Bendito seja Deus por aqueles que com sua coragem profética defendem a vida e fazem oferta da mesma em defesa da vida. Assim como fez o próprio CRISTO! Talvez seja uma forma cruel de bendizer a Deus, mas isto serve ainda de sinal. Penso que esse testemunho traz para a Igreja um demonstrativo de que ela é viva e ativa na sociedade de hoje.
Que este acontecimento não amedronte a Igreja, mas fortaleça os que lutam por uma vida mais justa e igualitária. E despertem da terra que griata uma força nova, a unidade e não a dispersão ou um retroceder, ou que fique paralisada. Mas avaçe, marche em direção a defesa da vida.
PARABÉNS PELO BLOG!!!

MA NOTÍCIA ASSIM NOS DEIXA TRISTE, MAS PARA MIM, SERVE DE FORÇA IMPULSIONADORA E MOTIVA A LUTAR POR JUSTIÇA.

ABRAÇO!
Zélia Alexandre

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