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domingo, 16 de maio de 2010

Texto de reflexão: Semana de Oração pela Unidade

Tema: “Vós sois as testemunhas disso” (Lucas 24,48)
Lema: “Testemunhar Cristo Hoje”
Texto bíblico: Lucas 24
1 No primeiro dia da semana, de manhã muito cedo, elas vieram ao túmulo, trazendo os perfumes que tinham preparado. 2 Elas acharam a pedra rolada de diante do túmulo. 3 Entrando, não acharam o corpo do Senhor Jesus. 4 Ora, enquanto elas estavam perplexas com isso, eis que dois homens se lhes apresentaram com roupas resplandecentes. 5 Tomadas de medo, elas baixaram o rosto para o chão, quando eles lhes disseram: Por que procurais o vivente entre os mortos? 6 Ele não está aqui, mas ressuscitou. Lembrai-vos como ele vos falou quando estava na Galiléia; 7 ele dizia: É preciso que o Filho do Homem seja entregue nas mãos dos homens pecadores, seja crucificado e, no terceiro dia, ressuscitado.
8 Então elas se lembraram das suas palavras, 9 voltaram do túmulo e relataram tudo isso aos Onze e a todos os outros. 10 Eram Maria de Magdala, Joana e Maria, mãe de Tiago; as outras companheiras delas o diziam também aos apóstolos. 11 Aos olhos destes, essas palavras pareciam um delírio e eles não acreditaram nessas mulheres. 12 Pedro, no entanto, partiu e correu ao túmulo; inclinando-se, não viu senão faixas e foi-se embora para casa, muito surpreso com o que havia acontecido.
13 E eis que, nesse mesmo dia, dois dentre eles se dirigiam a uma aldeia chamada Emaús, a duas horas de viagem de Jerusalém. 14 Eles falavam entre si de todos esses acontecimentos. 15 Ora, enquanto falavam e discutiam um com o outro, o próprio Jesus os alcançou e caminhava com eles; 16 mas seus olhos estavam impedidos de o reconhecer. 17 Ele lhes disse: Quais são essas palavras que estais trocando ao caminhar? Então eles pararam, com ar sombrio. 18 Um deles, chamado Cléofas, lhe respondeu: Tu és decerto o único homem de passagem por Jerusalém que não tenha sabido o que se passou nestes dias! 19 O que foi? disse ele. Eles lhe responderam: O que concerne a Jesus de Nazaré, que foi um profeta poderoso em atos e palavras diante de Deus e diante de todo o povo: 20 como os nossos sumo sacerdotes e os nossos chefes o entregaram para ser condenado à morte e o crucificaram; 21 quanto a nós, esperávamos que ele seria o que devia libertar Israel. Mas, com tudo isso, já é o terceiro dia que esses fatos se deram. 22 Entretanto, algumas mulheres que são dos nossos nos assustaram: tendo ido de madrugada ao túmulo 23 e não tendo encontrado o seu corpo, elas vieram dizer que tinham tido mesmo a visão de anjos que declararam estar ele vivo. 24 Alguns de nossos companheiros foram ao túmulo e o que acharam era conforme o que as mulheres haviam dito, mas não o viram.
25 Ele então lhes disse: Espíritos sem inteligência, corações tardos para crer tudo o que os profetas declararam! 26 Não era preciso que o Cristo sofresse isso para entrar na sua glória? 27 E começando por Moisés e todos os profetas, ele lhes explicou em todas as Escrituras o que lhe concernia.
28 Eles se aproximaram da aldeia para onde se dirigiam, e ele fingiu que ia prosseguir. 29 Os dois insistiram com ele, dizendo: Fica conosco, pois a tarde está caindo e o dia já começa a declinar. E ele entrou para ficar com eles. 30 Ora, quando se pôs à mesa com eles, tomou o pão, pronunciou a bênção, partiu-o e lhes deu. 31 Então seus olhos se abriram e eles o reconheceram, depois ele se lhes tornou invisível. 32 E disseram um ao outro: Não ardia em nós o nosso coração quando ele nos falava no caminho e nos explicava as Escrituras?
33 No mesmo instante, eles partiram e voltaram para Jerusalém; encontraram os Onze e seus companheiros, 34 que lhes disseram: É verdade! O Senhor ressuscitou e apareceu a Simão. 35 E eles contaram o que se passara no caminho e como eles o haviam reconhecido na fração do pão.
36 Enquanto assim falavam, Jesus se fez presente no meio deles, e lhes disse: A paz esteja convosco. 37 Espantados e cheios de medo, eles pensaram estar vendo um espírito. 38 E ele lhes disse: Que vem a ser essa perturbação, e por que se elevam essas objeções em vossos corações? 39 Olhai as minhas mãos e os meus pés. Sou eu mesmo. Tocai-me, olhai: um espírito não tem carne nem ossos, como vós vedes que eu tenho.
40 A essas palavras, mostrou-lhes as mãos e os pés. 41 Como, sob o efeito da alegria, eles permaneceram ainda incrédulos e como ficassem surpresos, ele lhes disse: Tendes aqui algo de comer? 42 Eles lhe ofereceram um pedaço de peixe grelhado; 43 ele o tomou e comeu à vista deles. 44 Depois disse-lhes: Eis as palavras que eu vos dirigi quando ainda estava convosco: é preciso que se cumpra tudo o que foi escrito sobre mim na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos.
45 Então ele lhes abriu as Escrituras 46 e lhes disse: É como foi escrito: o Cristo sofrerá e ressuscitará dos mortos no terceiro dia, 47 e, em seu nome se pregará a conversão e o perdão dos pecados a todas as nações, a começar por Jerusalém. 48 E vós sois testemunhas disso. 49 Da minha parte, eu vou enviar-vos o que meu Pai prometeu. Quanto a vós, permanecei na cidade até que sejais revestidos, do alto, de poder.
50 Depois ele os conduziu até perto de Betânia e, erguendo as mãos, os abençoou. 51 Ora, enquanto os abençoava, Jesus se apartou deles, sendo arrebatado ao céu. 52 Quanto a eles, após se terem prostrado diante dele voltaram para Jerusalém, cheios de alegria, 53 e estavam sem cessar no Templo, bendizendo a Deus.
Introdução ao tema para o ano de 2010
Durante o século passado a reconciliação entre os cristãos tomou formas bastante diferentes. A espiritualidade ecumênica mostrou como a oração é importante para a unidade dos cristãos. Grande impulso foi dado à pesquisa teológica, levando a um grande número de acordos doutrinários. A cooperação prática entre as Igrejas no campo social fez nascer frutuosas iniciativas. Junto com essas conquistas mais amplas, a questão da missão assumiu um lugar especial. Há até um consenso generalizado de que a Conferência Missionária Mundial de Edimburgo, em 1910, marcou o começo do movimento ecumênico moderno.
Missão e Unidade
Nem todos fazem naturalmente a ligação entre o empenho missionário e desejo da unidade cristã. Ainda assim, o compromisso missionário da Igreja deve caminhar passo a passo com seu compromisso ecumênico. Por causa do nosso Batismo já somos um único corpo e somos chamados a viver em comunhão. Deus nos fez irmãos e irmãs em Cristo. Não é esse o testemunho fundamental a que somos chamados?
Historicamente, o fato de que a questão da unidade cristã era frequentemente abordada por missionários se deve a razões práticas. Acontecia desse jeito simplesmente para evitar competição diante da necessidade de grandes recursos humanos e materiais. O território a ser evangelizado era partilhado e tentativas ocasionais eram feitas para realizar algo mais do que ter atividades desenvolvidas paralelamente e para favorecer projetos comuns. Missionários de Igrejas diferentes poderiam, por exemplo, combinar seus recursos para elaborar uma nova tradução da Bíblia e essa cooperação a serviço da Palavra de Deus levou a reflexões sobre as divisões entre os cristãos.
Sem negar as rivalidades existentes entre missionários enviados por Igrejas diferentes, deve também ser reconhecido que aqueles que estiveram primeiro no campo da missão foram também os primeiros a reconhecer a tragédia da divisão dos cristãos. A Europa havia se acostumado às divisões entre Igrejas mas o escândalo da desunião parecia terrível aos missionários que estavam anunciando o evangelho a pessoas que nada sabiam sobre Cristo até então. É claro que as diferentes divisões que marcaram a história do Cristianismo tiveram suas razões teológicas, mas também foram influenciadas pelo contexto (histórico, político, intelectual...) que lhes deu origem. Seria justificado exportar essas divisões para os povos que estavam descobrindo Cristo?
No meio do novo caminho que as recentes Igrejas locais estavam descobrindo, seria difícil deixar de notar a lacuna entre a mensagem de amor que queriam viver e a real separação entre os discípulos de Cristo.Como se pode fazer outros entenderem a reconciliação trazida por Cristo se os próprios batizados se ignoram ou lutam entre si? Como grupos cristãos que viviam em mútua hostilidade poderiam pregar um único Senhor, uma só fé e um só Batismo de modo convincente?
Não havia, portanto, falta de questões ecumênicas para os participantes da Conferência de Edimburgo em 1910.
A Conferência Missionária de Edimburgo, em 1910
Os delegados oficiais das sociedades missionárias protestantes de diferentes ramos do protestantismo e do anglicanismo, junto com um convidado ortodoxo, se encontraram durante o verão de 1910 na capital da Escócia. A Conferência, que não era um encontro de caráter decisório, não tinha outro objetivo senão ajudar os missionários a construir um espírito comum e coordenar seu trabalho.
Somente estavam presentes aquelas sociedades missionárias que trabalhavam para anunciar o evangelho em novos territórios onde Cristo ainda não era conhecido. Assim, as sociedades que trabalhavam na América Latina ou no Oriente Médio, onde já estavam a Igreja Católica Romana e as Igrejas Ortodoxas, não foram convidadas.
Em 1910 o panorama religioso escocês estava começando a se diversificar e as Igrejas Católica e Episcopal mais uma vez desempenharam um papel importante. Edimburgo foi escolhida como local desse encontro por causa de sua vitalidade intelectual e cultural. A reputação de seus teólogos e líderes eclesiais também influenciou a escolha. As Igrejas protestantes escocesas eram também especialmente ativas na missão e tinham fama de prestar atenção às culturas locais.
As igrejas cristãs na Escócia hoje
Reconhecendo esse importante marco na história do movimento ecumênico, era natural que os promotores da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos – a Comissão Fé e Ordem e o Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos – convidassem as Igrejas escocesas para preparar a Semana de Oração de 2010 , ao mesmo tempo em que elas estão envolvidas nos preparativos para celebrar o aniversário da Conferência de 1910 , que terá como tema “Testemunhar Cristo Hoje”. Em resposta, essas Igrejas sugeriram como lema “Vós sois as testemunhas disso” (Lucas 24,48)
O tema bíblico: “Vós sois as testemunhas disso”
No movimento ecumênico temos frequentemente meditado sobre o discurso final de Jesus antes da sua morte. Nesse testamento final a importância da unidade dos discípulos de Cristo é enfatizada: “Que todos sejam um... para que o mundo creia” (João 17,21)
Este ano as Igrejas da Escócia fizeram a escolha original de nos convidar a escutar o discurso final de Cristo antes da sua Ascensão: “É como foi escrito: o Cristo sofrerá e ressuscitará dos mortos no terceiro dia, e em seu nome se pregará a conversão e o perdão dos pecados a todas as nações, a começar por Jerusalém. E vós sois as testemunhas disso.” (Lucas 24,46-48). É sobre essas palavras finais de Cristo que refletiremos a cada dia.
Durante a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos de 2010, somos também convidados a percorrer todo o capítulo 24 do evangelho de Lucas. Tanto as mulheres assustadas diante do túmulo, como os dois desanimados discípulos no caminho de Emaús ou os onze discípulos dominados por dúvida e medo, todos os que juntos encontram o Cristo Ressuscitado são enviados em missão: “E vois sois as testemunhas disso”. Essa missão da Igreja é dada por Cristo e não pode ser posse particular de ninguém. É a comunidade dos que foram reconciliados com Deus e em Deus e podem testemunhar a verdade do poder da salvação em Jesus Cristo.
Percebemos que Maria Madalena, Pedro ou os dois discípulos de Emaús não vão testemunhar do mesmo jeito. Ainda assim, será a vitória de Jesus sobre a morte que todos colocarão no coração de seu testemunho.O encontro pessoal com o Ressuscitado mudou radicalmente suas vidas e, na originalidade de cada um, uma coisa se torna imperativa: “Vós sois as testemunhas disso.” Sua história vai acentuar aspectos diferentes, às vezes podem ocorrer entre eles discordâncias sobre o que a fidelidade a Cristo exige, mas ainda assim todos irão trabalhar para anunciar a Boa Nova.
Os oito dias
Durante a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos de 2010, vamos refletir a cada dia sobre o capítulo 24 do evangelho de Lucas, olhando as perguntas que ele nos apresenta: perguntas de Jesus aos discípulos; perguntas que os discípulos fazem a Jesus.
Cada um desses questionamentos nos possibilitará destacar um modo particular de testemunhar o Ressuscitado. Cada um deles nos convida a pensar sobre nossa situação de divisão eclesial e sobre como, concretamente, podemos remediar isso. Já somos testemunhas e precisamos nos tornar testemunhas melhores. Como?
louvando Aquele que nos dá o dom da vida e a ressurreição (dia 1)
— sabendo partilhar com outros a história de nossa fé (dia 2)
— reconhecendo que Deus age em nossas vidas (dia 3)
— dando graças pela fé que temos recebido (dia 4)
— confessando a vitória de Cristo sobre todo sofrimento (dia 5)
— buscando sempre ser mais fiéis à Palavra de Deus (dia 6)
— crescendo na fé, na esperança e na caridade (dia 7)
— oferecendo hospitalidade e sabendo recebê-la quando nos é oferecida (dia 8)
Não seria bem mais fiel o nosso testemunho do evangelho em cada um desses aspectos se testemunhássemos juntos?
Edimburgo 2010
O centenário da Conferência Missionária, que aconteceu na cidade no século anterior, será comemorado em junho de 2010 (www.edinburgh2010.org). Os organizadores querem que esse evento seja um tempo de ação de graças pelo progresso que Deus tornou possível na missão. Eles também dedicaram um lugar importante à oração, para oferecer a Cristo o testemunho que as Igrejas terão de sustentar juntas durante o século 21.
Esse encontro também permitirá que aqueles que trabalham há longo tempo no campo da missão e os representantes de correntes mais novas partilhem suas perspectivas. Membros de diferentes tradições eclesiais também poderão discutir sua prática de missão.
O mundo mudou bastante desde 1910 e mais uma vez a missão deve ser pensada de modo renovado. Diante da secularização e da descristianização, dos novos meios de comunicação, das relações interconfessionais, do diálogo interreligioso, há muitos temas a serem discutidos. Todos podem concordar quanto à necessidade de os discípulos de Cristo darem testemunho, mas ainda é difícil chegar a uma compreensão comum do que a missão precisa ser hoje. Dentro de cada Igreja individualmente não faltam reflexões e debates. Tudo isso não poderia trazer mais benefícios se envolvesse todas as Igrejas numa reflexão conjunta?
1910- 2010: Os cristãos trazem no coração um senso de urgência bem semelhante: para nossa humanidade ferida pela divisão, o evangelho não é um luxo supérfluo; o evangelho não pode ser proclamado por vozes discordantes.
Em Cristo, os que se encontram cheios de ódio podem encontrar o caminho da reconciliação. Em Cristo, aqueles que se dividem por qualquer coisa podem encontrar a alegria de viver como irmãos e irmãs... Vós sois as testemunhas disso.

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